Título: De guerrilheiro a poderoso do PT
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/07/2005, País, p. A2

Na despedida da presidência do PT, José Genoino lembrou que nunca planejou comandar o partido. Foi apenas uma decorrência da necessidade partidária, uma das muitas que marcaram sua vida pública e sua convivência política. - Essa missão me foi delegada. Na verdade, meu projeto passava bem distante de presidir o PT - desabafou aquele que já foi o deputado mais votado do país, em 1998, com 307 mil votos.

Petista desde 1981, um ano depois da fundação do partido, Genoino, ex-guerrilheiro de 58 anos, assumiu a presidência da legenda em dezembro de 2002 após ter o nome vetado para o Ministério da Defesa pelos militares. Mesmo com desempenho surpreendente que teve na corrida pelo governo de São Paulo contra o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), hoje governador.

À época da indicação para a Defesa, os militares afirmavam que a escolha desagradava aos quartéis menos por ter participado da guerrilha do Araguaia (1972-1975) e mais por ser um político de expressão e pensamento próprio sobre o papel das Forças Armadas. O fato poderia ofuscar os três comandantes que lhe seriam constitucionalmente subordinados.

No partido, substituiu o então ministro José Dirceu com a missão de ''apaziguar'' os ânimos da esquerda da sigla e manter a unidade do discurso do PT. Atendia a um pedido pessoal do presidente Luiz Inácio Lula das Silva.

Integrante da tendência interna Democracia Radical, Genoino foi um dos expoentes da chamada ''direita petista'', grupo que primeiro caminhou em direção a posicionamentos políticos e ideológicos próximos do centro.

Genoino foi parlamentar por cinco mandatos na Câmara. Tornou-se uma espécie de interlocutor do PT e já planejava partir para o sexto mandato como deputado, tendo a presidência do partido ainda nas mãos.

Os afastamentos de Genoino se segue as renúncias de Delúbio Soares e Silvio Pereira, que ocupavam os respectivos cargos de tesoureiro e secretário-geral do partido. Todos tiveram os nomes envolvidos com o escândalo do mensalão. As denúncias partiram do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que apontou Marcos Valério como operador do pagamento. Recentemente, descobriu-se que o dono das agências SMPB e DNA foi avalista de dois empréstimos para o PT, estabelecendo um elo entre a legenda e o acusado.

Uma questão em aberto é o futuro do próprio José Genoino que tem chapa colocada como candidato a presidente do partido no processo de eleição interna, marcado para setembro, no qual votam 840 mil filiados. A decisão de permanecer ou não candidato terá de ser feita nessa semana, mas a tendência é que o nome escolhido para seu lugar o substitua também na eleição. Cinco chapas estão inscritas no Diretório Nacional para disputar o controle partidário. Quatro são de oposição ao Campo Majoritário.