Título: Um partido entre a cruz e a espada
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sérgio Pardellas e Liliana La
Fonte: Jornal do Brasil, 10/07/2005, País, p. A3

Passando pela mais grave crise de sua história, o PT vive agora um dos maiores impasses. Dependendo do resultado do Processo de Eleições Diretas em setembro, o partido pode perder os deputados que ainda lhe conferem a cara de esquerda. A desilusão dos parlamentares cresceu com os rumos que o partido tomou, sobretudo depois das denúncias de mensalão e do financiamento de campanhas do PTB.

- Há reuniões em que deputados choram. O PT dentro de nós é muito forte, foi uma experiência marcante - observa o deputado Chico Alencar (PT-RJ), um dos líderes da chamada esquerda do PT, que desde o início do governo se encontrou com Lula duas vezes.

- O Roberto Jefferson esteve 14 vezes com ele - critica.

O controle do Campo Majoritário sobre o restante do partido fez com que a esquerda reduzisse a representatividade. Com as denúncias que acabaram por destituir a cúpula da legenda, dominada pela tendência, a esquerda vê na eleição do diretório a chance de mudar. Caso contrário, ameaça debandada. Para Alencar, se o PT não aprender com a dor, poderá se transformar num partido repleto de campeões de votos, mas sem emoção ou contato com a militância.

- O problema é a falta de alternativas. Vale a pena sair da esquerda do PT para ser a direita do PSOL? - indaga.

Protestos, desilusões, reclamações e frustrações lotam diariamente a caixa de e-mail dos petistas. Líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia reconhece que o partido está em dívida com a sociedade.

- Precisamos dar uma resposta rápida à militância e à população. Todo governo ou partido pode sofrer com a corrupção. O que vai nos diferenciar é a forma de agir.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Antônio Carlos Biscaia (RJ), reconhece ser difícil a população identificar a diferença no momento.

- O voto no PT sempre foi um voto na ética. Devemos ter uma redução na bancada.

O senador Cristovam Buarque acredita que a saída está em o PT se desvincular de sua história de luta sindical:

- O PT deve deixar de ser o partido dos trabalhadores para ser o do povo. O modelo atual, paulista, dividido em tendências, prisioneiro da economia como solução para problemas sociais, acabou. Temos deixar de ser controlados como soma de sindicatos. Ou surge um novo PT ou se enterra o PT.