Título: Semana decisiva
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2004, Internacional, p. A-7
O presidente George Bush e o senador John Kerry, praticamente empatados nas pesquisas, começam a última semana da corrida pela Casa Branca com uma campanha que se disputa em estados-chave, como a Flórida, Ohio, a Pensilvânia e o Colorado. Ao mesmo tempo, outros como o Texas e a Califórnia, dois dos mais populosos do país, ficam de lado, o que gera críticas ao sistema político nos EUA que tem por base o Colégio Eleitoral.
Na Flórida, de onde o vencedor levará 27 votos no Colégio - 10% dos necessários para eleger um presidente - Bush fez quatro atos de campanha no sábado. Kerry esteve no estado ontem, quando o republicano foi para o Sudoeste, visitado pelo democrata um dia antes.
Os dois candidatos estão virtualmente empatados nas pesquisas, embora algumas sondagens, como a divulgada pela revista Newsweek, atribuam uma pequena vantagem a Bush, inferior à margem de erro da pesquisa.
Mesmo assim, Kerry parece se beneficiar de uma vantagem no Colégio Eleitoral, cujos votos são distribuídos entre os estados, pelo tamanho da população. Se a tendência se confirmar, poderá se repetir o ocorrido nas eleições de 2000, quando o candidato vencedor não foi o que obteve mais votos, mas o que conseguiu o maior número de eleitores no Colégio. Desta vez, no entanto, os beneficiados seriam os democratas.
Um dos principais conselheiros de John Kerry, Bob Shrum, se mostrou confiante e disse à emissora ABC que espera conseguir 300 votos no Colégio, 30 a mais que os 270 necessários. Ao contrário, o diretor de comunicações da Casa Branca, Dan Bartlett, afirmou que o vencedor será novamente o presidente.
- Vamos vencer nos 30 estados onde Bush ganhou em 2000, mais alguns estados-chave conquistados, na época, por Al Gore - comentou.
Por causa do modelo indireto, os dois candidatos devem se concentrar em estados indecisos e manter longe da campanha outros como o Texas e a Califórnia, teoricamente já decididos.
Apesar de a Califórnia ter o maior número de eleitores dos EUA, os candidatos ignoraram o estado. Como a vitória democrata por lá é certa e como, pelo sistema político corrente, o vencedor leva todos os votos do estado no Colégio Eleitoral - não importando quantos votos tem o segundo lugar - não faz sentido para Kerry ou Bush despenderem recursos de campanha com os californianos.
O mesmo ocorre no Texas, terra natal do presidente, mas no sentido inverso. No estado, a vitória é certa para o candidato republicano.
George Bush não vai à Califórnia desde março, enquanto John Kerry, que visitou o estado 28 vezes antes das eleições primárias, há tempos não passa por lá.
Com o Texas ocorre algo semelhante, apesar dos 34 votos para o Colégio Eleitoral tornarem o estado o terceiro mais importante na eleição, depois da Califórnia e de Nova York.
A pouca atenção aos dois estados contrasta com a agitação em Ohio, na Pensilvânia e na Flórida, onde os candidatos compareceram dezenas de vezes e continuam indo para conquistar os votos que podem garantir a vitória.
- Em uma democracia, a idéia é a de que a sua opinão seja ouvida. Mas não acho que isso esteja acontecendo, o que é frustrante - disse o eleitor Bob Andrews, de Pacifica, na Califórnia.
Andrews conta que em algumas eleições o seu voto não contou para nada.
- Em 1976, quando Ronald Reagan venceu Jimmy Carter, as eleições foram decididas antes de as urnas terem sido fechadas aqui - reclama.
O jornal San Francisco Chronicle lamentou na quinta-feira a pouca relevância que a Califórnia, o estado mais rico do país, tem na campanha e disse que o Colégio Eleitoral é uma instituição anacrônica.