Título: Longo caminho para 2016
Autor: Duilo Victor e Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 10/07/2005, Rio, p. A26

Pouco mais de um ano depois da desilusão de ver o Rio eliminado da candidatura para 2012, a cidade revive o sonho de sediar os Jogos Olímpicos em 2016. Na avaliação dos presidentes da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Mario Vásquez Raña e Carlos Arthur Nuzman, a escolha de Londres esta semana aumenta as chances cariocas para 2016. O prefeito Cesar Maia aposta no Pan 2007 como o grande impulso para que o Rio abocanhe as Olimpíadas daqui a 11 anos. Mas especialistas freiam o otimismo do alcaide com a afirmação de que ainda há muito a fazer para que a cidade esteja apta a sediar os jogos. Principalmente nas áreas de transporte e infra-estrutura hoteleira, quesitos que levaram o Comitê Olímpico Internacional (COI) a eliminar o Rio da última disputa.

- Ainda há muito trabalho pela frente e temos que pensar o transporte de forma sistêmica. Se não, é melhor esquecer os jogos de 2016 - alerta Fernando MacDowell, engenheiro de transportes e professor livre docente da UFRJ.

Entre as medidas a serem tomadas, MacDowell cita a criação da Linha 4 do metrô (ligando Copacabana à Barra) e outras duas linhas tranversais, que cortem a cidade a partir do Cebolão. A primeira seria o Transpan, sistema de metrô na superfície passando por Del Castilho e pela Ilha do Fundão, até chegar à Ilha do Governador. E a segunda seria a Linha 6 do metrô, que seria integrada ao trem, em Madureira, e à Linha 2, em Irajá, tendo como destino final também a Ilha.

Da Barra para o Recreio, onde está sendo construída a Vila Olímpica, a solução, para MacDowell é a implantação do aeromóvel, sistema com vagões semelhantes ao do metrô, só que movido a ar.

- São 11 anos até os jogos, mas é preciso que se comece a pensar agora no que deve ser feito e nos recursos necessários - opina MacDowell.

Para ele, a prioridade é resolver os problemas das linhas atuais, como concluir o rabicho da Linha 1, na Tijuca, diminuir de quatro para dois minutos o intervalo entre os trens - dobrando a capacidade de passageiros - e expandir a Linha 2, criando uma ligação entre as estações Estácio e Carioca, chegando até a Praça 15.

- Quando esta linha estiver concluída, haverá um transporte de massa apto a absorver os usuários das barcas e será possível fazer a ligação hidroviária a diversos pontos, como os aeroportos, Barra, Niterói e Duque de Caxias - diz o engenheiro.

A complementação da Auto-Estrada Lagoa-Barra, a modernização dos sinais de trânsito e a criação de ligações da Linha Vermelha com outras vias também são apontadas por MacDowell como medidas para desafogar o trânsito carioca.

A rede hoteleira é outro fator que precisa de investimentos para viabilizar o sonho olímpico. Em maio do ano passado, este foi outro ponto considerado fraco na cidade pelo COI. O comitê exigia 31,5 mil quartos e o Rio só tinha, àquela época, 19.114 vagas. Hoje, são cerca de 28 mil quartos, de acordo com a TurisRio. A estimativa da secretaria não faz distinção, no entanto, da quantidade de quartos de três a cinco estrelas, uma exigência do COI na época.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (ABIH -RJ), Alfredo Lopes, garante que o déficit de vagas não será problema em uma candidatura para 2016.

- O crescimento natural da rede hoteleira, principalmente na Barra da Tijuca, onde seria a maioria dos eventos esportivos, dará conta das exigências - estima.

Alfredo prevê já para o próximo verão um crescimento na ocupação dos hotéis entre 5% e 8% e explica que não é só o turismo de lazer o responsável pela expansão da rede hoteleira:

- As cidades candidatas costumam incluir a oferta de vagas em um raio de 100 quilômetros dos locais de competições. Com isso, Niterói, Região dos Lagos e Serrana podem ser incluídos. O turismo de convenções tem crescido muito no interior do estado.

O vice-prefeito do Rio, Otávio Leite também concorda que o crescimento natural da rede hoteleira, impulsionada pelo aumento de turistas estrangeiros. Mas admite que a oferta de quartos tem que crescer pelo menos mais 30% até 2016.

- Só no último verão, o fluxo de turistas estrangeiros aumentou 17% e esse crescimento de demanda trará mais investimento - responde.

Para atrair a indústria hoteleira, uma lei já em vigor dá isenção de 40% no IPTU de imóveis que forem construídos para serem hotéis.

Cesar Maia, que no ano passado apontou a violência como a culpada pela eliminação carioca, minimiza as críticas. Segundo ele, o Rio perdeu a sede das Olimpíadas em 2012 porque ainda não havia uma infra-estrutura efetiva de esportes, o que existirá depois do Pan:

- O Pan é decisivo pois será uma demonstração de capacidade de organizar e sediar as Olimpíadas. Se fizermos um Pan com qualidade olímpica, o demais virá.

Já Nuzman, que acredita que dificilmente a Europa tenha outra oportunidade em 2016, aumentando as chances da América Latina, alerta:

- O mundo do esporte quer realizar os Jogos Olímpicos no Brasil. Resta saber se o Brasil quer sediar os Jogos Olímpicos ou entender a dimensão do que eles podem representar para o país. É um sonho possível, desde que todos tenham maturidade, equilíbrio, análise da dimensão dos Jogos. Existem dois orçamentos, um de organização das Olimpíadas e outro de infra-estrutura e de construção de instalações esportivas. Então não adianta insistir em colocar os dois orçamentos juntos, porque isso não existe no COI.