Título: Agência de Marcos Valério é suspeita de lavar dinheiro
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 11/07/2005, País, p. A2

Em apenas um dia de 2001, Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser operador do mensalão, encaminhou US$ 72.499,73 - cerca de R$ 171,1 mil pelo câmbio atual - para o exterior, através de uma conta utilizada por doleiros para lavagem de dinheiro. Documentos da CPI do Banestado obtidos pelo Jornal do Brasil mostram que, no dia 24 de maio de 2001, a agência DNA Propaganda, comandada por Valério, fez três remessas para o exterior pela conta Lonton, que faz parte do esquema Beacon Hill. A primeira, no valor de US$ 1.299,48, teve como beneficiário a Turner Bro. A segunda, no valor de US$ 10.000,25, destinou-se à Euromoney. Por fim, mais uma remessa, desta vez de US$ 61.200, foi encaminhada para a Latin Financial.

O surgimento destas remessas mostra que Valério mentiu à Polícia Federal em 2003 e durante o depoimento à CPI dos Correios na última quarta. Nas duas ocasiões, ele afirmou desconhecer a conta utilizada para lavagem de dinheiro. Na CPI, reconheceu o envio de dinheiro para o exterior para pagamento de fornecedores. Mas, segundo ele, essas quantias chegavam, no máximo, a US$ 10 mil, valor muito inferior aos US$ 61.200 destinados a Latin Financial.

As desconfianças sobre o envolvimento de Valério com a Beacon Hill surgiram pela primeira vez durante as investigações da CPI do Banestado. Na época, os integrantes da Comissão Parlamentar receberam um disquete encaminhado pelo promotor em Nova York, Robert Morgenthal, com todas as movimentações feitas pela Beacon Hill. O nome de Valério aparecia entre aqueles que participariam do esquema. Chamado a depor na Polícia Federal, em 2003, ele negou desconhecer a off-shore.

Parlamentares da CPI acreditam que as remessas são muito maiores do que estas que começam a aparecer. Acredita-se que, entre 2000 e 2002, Valério tenha enviado de US$ 750 mil a US$ 1 milhão para o exterior de forma ilegal. O Ministério Público Federal está investigando dois caminhos utilizados pelo suposto operador do mensalão para lavar o dinheiro. A primeira opção seria pela Beacon Hill, que está sendo investigada pelo MP do Paraná. Os procuradores da República em Minas investigam remessas suspeitas de Valério por outra conta suspeita, a Infotrading.

Integrante da CPI dos Correios, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) reconhece que existem indícios claros de crime contra o sistema financeiro nacional. O senador ouviu pelos corredores do Congresso que o operador do mensalão teria feito pelo menos 50 remessas para o exterior.

- Todos estes dados fazem parte dos documentos da CPI do Banestado. Precisamos requisitar esse material para confrontar as informações - sugeriu o senador.

A ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Sommagio, também confirmou em seu depoimento à CPI dos Correios o envolvimento de seu ex-patrão com o esquema de remessa ilegal de recursos para o exterior. Segundo Karina, Valério se encontrava regularmente com o relator da CPI do Banestado, deputado José Mentor (PT-SP).

- Uma vez, quando Mentor telefonou com uma notícia sobre a CPI do Banestado, o sr. Marcos Valério mandou que eu pegasse 25 pastas suspensas em que ele guardava notas fiscais e de investimentos e picotasse tudo - lembrou a secretária.

Karina também confirmou que fez ligações a pedido de Valério para um dos doleiros presos na Operação Farol da Colina, Haroldo Bicalho. Haroldo é um dos controladores da conta Lonton, utilizada no esquema Beacon Hill para enviar recursos ilegalmente para o exterior.