Título: Sísifo, as danaídes e o PT
Autor: Ubiratan Iorio
Fonte: Jornal do Brasil, 11/07/2005, Outras Opiniões, p. A11

Duas das lendas mais fascinantes da riquíssima mitologia grega e que retratam castigos para toda a eternidade são a de Sísifo que, por ter ludibriado a morte, foi condenado por Júpiter a empurrar morro acima uma enorme e pesada pedra que, sempre que o infeliz estava alcançando o topo, escapava-lhe das mãos e rolava ladeira abaixo, e a lenda das Danaídes, condenadas ao castigo de encher um barril furado. O governo petista e seus parlamentares, por terem ludibriado não a morte, mas cerca de 53 milhões de esperançosos - e ingênuos - eleitores, padecem, com as inúmeras denúncias e consideráveis evidências de corrupção, da síndrome de Sísifo-Danaides: enquanto empurram as suas pedras ou pensam estarem enchendo os seus barris, acreditam que sua impossível tarefa de resgatar a credibilidade popular de que tanto se vangloriavam até um passado recente e que os levou ao poder chegará a bom termo. O presidente Luiz da Silva se pensa que, com a troca de alguns dentre a semi-multidão de companheiros que transformou em ministros, logrará chegar ao cume do morro, engana-se redondamente; e os parlamentares de seu partido, que tanto têm se esforçado na vã tentativa de demonstrar, nas CPIs transmitidas ao vivo para todo o país, que o círculo é quadrado, se julgam que seu esforço permitirá encher o barril, fazem, perante uma população indignada, um papel que não condiz com o que seus eleitores deles esperavam. Ao tentarem defender o indefensável, mostram que não sabem tirar proveito das lições da História, que nos mostra fartamente que há horas em que é melhor capitular com dignidade do que tergiversar com falsidade. Alguns, inclusive, já o estão fazendo, mas são poucos.

A grande verdade, infelizmente, para os brasileiros de todas as doutrinas e ideologias, é que este governo, na prática, está terminando um ano e meio antes de seu fim constitucionalmente previsto. Não por meio de um impeachment açodado por caras pintadas e atiçados por interesses tão escusos quanto poderosos, mas por sua impressionante falta de habilidade para governar. O partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam, dos jornalistas que desinformam e dos intelectuais que não pensam fora da cartilha marxista é agora, também, o dos governantes que não governam... Nunca se viu ''neste país'' - para usarmos o linguajar do presidente -, pessoas tão incompetentes ocupando cargos de tamanha responsabilidade; nunca as instituições públicas foram invadidas por gente tão despreparada para geri-las e nunca se imaginou que alguns comissários, antes tão ''éticos'', pudessem tão rapidamente transformar os brasileiros em tão céticos!

Falar em ''golpe da direita'', neste momento - diante de evidências de corrupção que se amontoam a cada dia -, é pura manobra diversionista, tão do agrado de governos radicais de esquerda. O verdadeiro golpe foi desferido pelo próprio governo, contra o próprio corpo - mas que, infelizmente, atingiu também em cheio os incautos esperançosos que acreditaram em promessas irresponsáveis -, ao manifestar tanta incompetência, presunção e - agora estamos prestes a comprovar - agressões à ética, talvez ''justificadas'' pela velha, carcomida e imoral falácia socialista de que os (seus) fins justificam quaisquer meios, mesmo que entre estes esteja o de ludibriar eleitores.

Vivemos, afinal, em uma democracia e cabe a cada um de nós contribuir da melhor forma para aperfeiçoá-la. Deixemos toda a sujeira emergir, façamos toda a lama escorrer e preparemo-nos para, no próximo ano, jogar um jato de água pura nas nossas instituições, por ocasião das eleições. Até lá, que os Sísifos e Danaídes petistas continuem a empurrar suas pedras morro acima e a tentar encher seus barris. É o preço justo do estelionato eleitoral que cometeram.