Título: Flip leva 12 mil pessoas a Paraty
Autor: Paula Barcellos e Vivian Rangel
Fonte: Jornal do Brasil, 11/07/2005, Cidade, p. A15

Organizadora da festa literária atribui à diversidade de autores o sucesso da 3ª edição

PARATY - Nem a chuva fina e a baixa temperatura conseguiram inibir os leitores da terceira edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Cerca de 12 mil pessoas passaram pela cidade histórica nos últimos cinco dias, lotando 209 pousadas do Centro. Foram 20 mesas de debates, reunindo 36 escritores, 15 deles estrangeiros. A Tenda dos Autores aumentou de tamanho: dos 600 lugares do ano passado para 750. No espaço com telões, o número de cadeiras saltou de 700 para mil. E há chances de que em 2006, a Flip dure 15 dias. Na avaliação da idealizadora do evento, a inglesa Liz Calder, essa edição foi a mais variada. - A mistura de tantos autores resultou em muitas mesas provocativas. A edição foi mais organizada e envolveu mais moradores de Paraty. As crianças fizeram trabalhos sobre literatura belíssimos - afirmou Liz Calder.

A coordenadora de programação da festa, Ruth Lanna, acertou em não limitar as discussões e os convidados ao universo literário. Uma das mesas mais badaladas, aplaudida de pé, foi justamente a formada pelo cientista político Luiz Eduardo Soares, pelo rapper MV Bill e pelo jornalista Arnaldo Jabor - vaiado ao elogiar o governo Fernando Henrique Cardoso. O momento mais emocionante ficou por conta de Ariano Suassuna. Entre risos e lágrimas, os leitores que se aconchegaram na Tenda dos Autores, chegaram a pedir bis. Com a aclamação, ele conversou por mais meia hora.

Jô Soares causou alvoroço desde o momento que pisou na cidade. O apresentador quebrou o protocolo e entrou de carro nas ruas do Centro Histórico, fazendo com que fãs e flashes da imprensa corressem atrás dele. Enquanto isso, o anglo-indiano Salman Rushdie andava à vontade pelas ruelas de pedra.

O debate sobre a existência ou não de uma literatura regionalista entre o baiano João Filho, o sergipano Antonio Carlos Viana e o cearense Ronaldo Correia de Brito também conquistou os leitores. E, no calor da hora, com o atentado em Londres, os correspondentes de guerra Jon Lee Anderson, Pedro Rosa Mendes e David Crossman alertaram o público para a importância das coberturas jornalísticas. A decepção ficou com o historiador Evaldo Cabral de Mello na mesa sobre os 400 anos de Dom Quixote. Monótono, leu mais de 10 páginas de um ensaio sobre o tema - muito bom, mas nada apropriado para a ocasião.

Mais uma vez, a Flipinha foi um sucesso. As crianças se divertiram com os bonecos gigantes de papel maché, além das conversas com Luis Fernando Veríssimo, Marina Colasanti - colunista do JB - e MV Bill.

Nos bares, os escritores mantiveram a tradição: muita cerveja, muita cachaça e, sobretudo, muita conversa sobre livros. O rumo da prosa, no entanto, mudou em dois instantes: no dia do atentado a Londres e, sábado, quando o deputado José Genoíno anunciou seu desligamento da presidência do PT.

A cidade, mais uma vez, mostrou que ainda precisa adaptar a infra-estrutura para receber tanta gente. Era quase impossível comer uma pizza sem levar pelo menos duas horas. Almoçar então...nem se fala. Nas tendas, as filas na entrada e o atraso em praticamente todas as mesas deixaram as pessoas impacientes. Mas nada que tirasse a magia do evento.