Título: ''Querem desmantelar o BNDES''
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2004, Economia, p. A19

Lessa rebate críticas à sua administração e proposta de repassar administração de verbas do FAT para bancos comerciais

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BDNES), Carlos Lessa, voltou ontem à sede da instituição, de cadeira de rodas e com a perna imobilizada por uma contusão no joelho esquerdo, mas disposto a entrar de sola nas críticas feitas à sua administração. Em discurso emocionado, ele criticou três ex-presidentes do banco sem citar seus nomes (Pérsio Arida, Edmar Bacha e André Lara Resende), economistas e segmentos do governo que acusaram o BNDES de ineficiente e burocrático. - Querem desmantelar o BNDES e sua atuação como banco de desenvolvimento - disse, durante cerimônia pelos 50 anos da morte de Getúlio Vargas, nos jardins do BNDES, no fim da tarde, referindo-se aos diversos artigos publicados contra a atual administração.

Lessa se referia a um artigo de Arida no qual o economista defendia a transferência de gestão dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para os bancos comerciais. Hoje, os recursos do FAT compõem o orçamento do BNDES.

- Isso significa dar aos bancos um poder negocial que o BNDES não utiliza quando financia o sonho do povo brasileiro - rebateu.

Os recursos do FAT são remunerados a uma taxa inferior à Selic, de 16,75%. Em contrapartida, o banco também empresta a uma taxa inferior, a TJLP. Com a mudança, o setor financeiro privado teria acesso a recursos remunerados a um custo inferior ao dos juros cobrados na concessão de crédito.

Segundo Lessa, a história do sistema bancário no Brasil mostra, claramente, a prioridade dada às operações de tesouraria em detrimento da concessão de crédito. Esse comportamento, de acordo com ele, se reflete nos números do BNDES. As operações de crédito feitas diretamente pelo BNDES aumentaram este ano, mas as indiretas, feitas pelos agentes financeiros (bancos) não tiveram o mesmo comportamento.

- Estou extremamente preocupado com o que parece ser um discurso orquestrado para atribuir ao BNDES a culpa de burocracia e de lentidão - disse, referindo-se a outro artigo que acusava o banco de conceder crédito subsidiado.

Ele lembrou que o banco saiu de um orçamento realizado de R$ 33 bilhões em 2003, com mil funcionários, para um volume de R$ 48 bilhões em 2004, que vai ser cumprido, com o mesmo número de funcionários. ''Onde está a ineficiência?'', questiona. Em 2005, a previsão é de superar os R$ 60 bilhões, o que dará ao BNDES mais fôlego do que o Banco Mundial.

A economista Maria da Conceição Tavares, conhecida pelas críticas ao modelo econômico neoliberal, defendeu, durante o seminário sobre a Era Vargas, a política ortodoxa do governo Lula. ''Não existe macroeconomia de esquerda. O governo Lula não tinha outra opção''.