Título: Clinton energiza campanha
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2004, Internacional, p. A-8
Apresentado como ''o último presidente dos EUA a ser verdadeiramente eleito'', um sorridente Bill Clinton subiu ao palanque ontem, na Pensilvânia, com energia renovada e o otimismo de sempre, em campanha para o democrata John Kerry, apenas sete semanas depois de ter se submetido a uma cirurgia cardíaca.
Estrategistas do partido esperam que a participação de Clinton na reta final da campanha crie uma onda de excitação que ajude a energizar a base democrata e a atrair os indecisos que apoiaram o ex-governante.
Ele e Kerry participaram juntos do comício, no coração da Filadélfia, e discursaram para uma multidão que os recebeu aos acordes de No surrender (Não nos renderemos), música do cantor Bruce Springsteen, que também apóia a candidatura do democrata.
- Se isso não é bom para o meu coração, não sei o que é - disse, recebendo uma calorosa resposta da platéia.
De cabelos totalmente brancos e mais magro, Clinton criticou as políticas de emprego, segurança, saúde e orçamento do presidente George Bush e afirmou que, em oito dias, Kerry devolverá os EUA ao povo.
- Kerry tem um plano melhor para os Estados Unidos - disse, pedindo ao público que faça de tudo para evitar que filhos e netos ''paguem pelos cortes de impostos''. - Nossos amigos do outro lado querem um mundo onde concentram a riqueza e o poder na extrema direita, e cooperam com os outros somente quando querem.
Segundo o ex-governante, que tinha previsto participar de outro comício na Flórida, Bush concentra o discurso no medo, enquanto Kerry focaliza na esperança.
- Se um candidato está tentando amedrontá-lo e o outro está tentando fazê-lo pensar; se um está apelando para o medo e o outro para a esperança, me parece que você deve votar em quem quer que você pense e tenha esperança - disse Clinton, acrescentando esperar que o apoio faça com que o democrata conquiste ''alguns votos'' que poderão ser cruciais.
Mas foi Kerry quem levou a multidão ao delírio, ao contar uma conversa com Clinton.
- Eu lhe perguntei se havia algo em comum entre ele e Bush. Ele pensou e respondeu: em oito dias nós dois seremos ex-presidentes - contou o senador, reiterando as promessas e garantindo que ''a ajuda está a caminho''.
Durante o atual governo, a Pensilvânia perdeu 70 mil empregos. O estado envia ao Colégio Eleitoral 21 dos 270 votos necessários para vencer a corrida pela Casa Branca, e está entre os três principais campos de batalha.
Os democratas, que contam com grande apoio na Filadélfia, querem que o ex-presidente, adorado pelos negros, consiga motivá-los a sair de casa para votar, já que nos EUA é opcional.
- Agora Kerry vai ganhar e, daqui a oito anos, elegeremos Hillary Clinton - disse Asprey Pressley, um taxista negro que decidiu não trabalhar para presenciar o ''grande acontecimento''. Nas mãos, carregava um dos cartazes com o número oito, em alusão à contagem regressiva para o dia da eleição.
Segundo Dan Bartlett, diretor de comunicação da Casa Branca, o fato de Kerry ter tirado Clinton ''da cama'', só demonstra ''desespero''.
Mas quem recebeu munição ontem para atacar o rival foi o democrata. A Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) informou ontem que mais de 340 toneladas de explosivos foram roubadas no Iraque depois da invasão, dado que Kerry usou para culpar o presidente por não ter vigiado os arsenais do país árabe.
- A incrível incompetência deste presidente e do governo coloca nossas tropas e nossa gente em perigo. George Bush foi reprovado no teste de comandante-chefe - disse o democrata. - Mesmo depois de ter sido alertado do risco das grandes reservas de explosivos no Iraque, o governo não as vigiou.