Título: Lula preserva popularidade apesar da crise e das denúncias
Autor: Nelson Carlos de Souza
Fonte: Jornal do Brasil, 13/07/2005, País, p. A2

As denúncias de corrupção envolvendo o governo e membros do PT não afetaram a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com pesquisa do Instituto Sensus divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Para a maioria dos 2 mil entrevistados, o escândalo do mensalão está mais vinculado à Câmara dos Deputados e ao PT do que a Lula. Para 35,4%, o escândalo está ligado à Câmara; para 31,2%, ao PT; e para 12%, ao presidente Lula. Quase metade dos entrevistados (45,7%) considera que Lula não tinha conhecimento prévio das denúncias sobre o suposto pagamento de mensalão na Câmara e de corrupção nas estatais. Para outros 33,6%, ele tinha conhecimento. O restante não respondeu ou não soube opinar.

Os entrevistados também avaliaram positivamente a atitude que Lula tomou diante das denúncias de corrupção. Ele agiu corretamente para 47,8% e não tem agido da forma adequada para 31,9%. A pesquisa mostra ainda que, para 64,7%, o pagamento de mesada a parlamentares para votar com a orientação do governo é uma prática antiga e utilizada em outros governos. Outros 18% acreditam que é uma prática nova, criada no governo do PT.

Já a desaprovação em relação ao desempenho pessoal do presidente caiu de 32,7% para 30,2% - a variação permanece dentro da margem de erro da pesquisa, realizada entre os dias 5 e 7 deste mês. A pesquisa chamou a atenção para o fato de o presidente ter um desempenho baixo nos estado das regiões Sul e Sudeste e entre eleitores de escolaridade mais alta.

Outro dado importante é que 67% das pessoas ouvidas pelos pesquisadores acreditam que o deputado Roberto Jefferson fala a verdade e apenas 18% afirmaram que ele mente, sendo que 76% dos pesquisados têm acompanhado ou ouviram falar das denúncias do deputado petebista.

Para 35,4% dos entrevistados, o escândalo está ligado à Câmara; para 31,2%, ao PT; e para 12%, a Lula. De acordo com 45,7% das pessoas ouvidas, o presidente não tinha conhecimento prévio das denúncias sobre o suposto pagamento de ''mensalão'' na Câmara e de corrupção nas estatais. Para outros 33,6%, Lula sabia das denúncias de corrupção tornadas públicas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Os bons resultados da economia brasileira e os programas sociais do governo, que oficialmente já atendem a 7,5 milhões de pessoas, são os principais fatores que mantêm estável a avaliação da população sobre o governo do presidente Lula.

De acordo com a pesquisa, houve apenas oscilação negativa no Índice de Satisfação do Cidadão (ISC), em relação a consulta a população feita em maio, que caiu de 51% em maio, para 50% em julho.

Segundo o documento da CNT/Sensus, praticamente todos os subíndices do ISC apresentaram leve oscilações negativas. A satisfação da população com o país caiu de 62,50% para 60,75% de maio para julho.

Para 65% dos entrevistados, a crise política que o país enfrenta atualmente afeta a credibilidade do Brasil no exterior. A pesquisa CNT/Instituto Sensus foi feita em 195 municípios de 24 Estados nas cinco regiões do país. Foram ouvidas 2 mil pessoas e a margem de erro da pesquisa é de 3% para mais ou para menos.

O presidente da CNT e vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade, se disse surpreso com o fato de as denúncias de corrupção não terem abalado a imagem do presidente e o seu governo. Segundo ele, com a crise o PT se ''igualou'' aos demais partidos políticos.

- Até agora, a blindagem que fizeram em cima do Lula e a melhoria da economia nos últimos seis meses funcionaram perfeitamente - disse.

Clésio foi sócio de Valério, acusado de ser o pagador do ''mensalão'' pelo deputado Roberto Jefferson, nas empresas Bras Telecom e Brastev. As duas companhias foram criadas em 1997 com capital de R$ 1 milhão, cada, e com sede num mesmo endereço, uma sala comercial de 50 metros quadrados no centro de Belo Horizonte, mas nunca saíram do papel. O vice-governador de Minas também foi o dono da SMPB Comunicação e DNA Propaganda. As duas empresas são acusadas de terem sido favorecidas nas licitações dos Correios. Os saques milionários feitos por Valério foram retirados de suas contas no Banco Rural.