Título: Gushiken perde status
Autor: Karla Correia e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/07/2005, País, p. A3

A segunda etapa da reforma ministerial encampada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva limitou poderes do titular da Secretaria de Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, um dos nomes mais influentes no Planalto. As mudanças anunciadas ontem incluíram a perda do status de ministro de Gushiken, envolvido em suposto tráfico de influência a favor de empresa da qual foi sócio. Agora secretário, ele se reportará à Casa Civil, comandada por Dilma Rousseff. Desvincular a Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência da República foi uma decisão de Lula, apurou o Jornal do Brasil.

- Gosto muito de você, China. Mas não quero mais esse negócio de Secom e publicidade sob a minha asa - explicou o presidente ao amigo.

A gestão da publicidade federal entrou na mira do Congresso com o surgimento do nome de Marcos Valério, acusado de ser um dos operadores do mensalão. Foi sob a administração de Gushiken que as agências SMPB e DNA amplificaram a influência no primeiro escalão federal, menos pelo contato com o então ministro e mais pela ligação com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Na versão divulgada pela Secom, a mudança de status da secretaria foi sugerida a Lula pelo próprio Gushiken, dentro de uma reforma da área de comunicação que se iniciou com a fusão do gabinete do porta-voz e da Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência.

O secretário teria proposto ainda a vinculação de seu gabinete à Casa Civil e a nomeação de um um fiscal para controle interno na Secom, indicado pela Corregedoria Geral da União. Nota divulgada pela assessoria de imprensa da secretaria informa que as propostas foram apresentadas ao presidente na semana passada.

Outras modificações foram anunciadas por Lula aos ministros pouco antes do embarque para a França, durante a reunião ministerial que se seguiu à posse de Luiz Marinho na pasta do Trabalho. Mas a reforma só será concluída, incluindo modificações no comando de estatais, após o retorno do presidente, na segunda-feira.

Os ministérios da Coordenação Política e da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foram extintas. Ambas será aglutinadas na nova Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e Relações Institucionais, dirigida por Jaques Wagner.

A Secretaria de Direitos Humanos também perdeu status de ministério. Passa a se reportar ao Ministério da Justiça e o titular, Nilmário Miranda, deixa o cargo para concorrer à presidência do PT de Minas Gerais, nas convenção marcada para 18 de setembro. A permanência da Nilmário na secretaria era um desejo de Lula. O titular dos Direitos Humanos, no entanto, teria pedido demissão depois de saber do presidente da subordinação da pasta à Justiça.

Aldo Rebelo (Coordenação Política), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Romero Jucá (Previdência) deixam os ministérios e retornam ao Legislativo. Filiado ao PSB, o atual presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Sérgio Rezende, assume Ciência e Tecnologia. Aldo e Campos retomam os mandatos para reforçar a tropa do governo no Congresso. Na avaliação de Lula, o governo experimentou um dos melhores períodos no Parlamento quando contou com o trinca Aldo-Campos e Eunício Oliveira, que se reproduzirá novamente a partir dessa semana. Eunício deixou o governo na sexta-feira para ceder o lugar a Hélio Costa.

O ministro da Educação, Tarso Genro, deixa o cargo dia 27 para assumir a presidência do PT. Segundo ele, o presidente Lula já teria autorizado o anúncio do secretário-executivo da pasta, Fernando Haddad, como seu substituto. Mas o novo ministro ainda não foi confirmado pelo Planalto. Genro antecipou a mudança ontem de manhã à equipe. Segundo auxiliares do presidente, contudo, a Educação ainda pode entrar no rateio político do restante da reforma a ser anunciada na próxima semana, tornando inviável a permanência de Haddad.

As mudanças anunciadas pelo presidente Lula foram concluídas apenas na manhã de ontem. No dia anterior, a necessidade de fechar as negociações antes do embarque à França levou o presidente a varar a madrugada em reuniões. Foi quando Lula recebeu em audiência os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e anunciou o retorno dos dois à Câmara.