Título: Em decisão unânime, PFL expulsa deputado João Batista
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 13/07/2005, País, p. A4

O PFL levou apenas 24 horas para expulsar, em decisão unânime de sua Executiva Nacional, o deputado João Batista Ramos da Silva (SP), detido segunda-feira no aeroporto internacional de Brasília com mais de R$ 10 milhões distribuídos em sete malas. Apesar de elogiado pelos lideranças do partido, a filiação do deputado foi cancelada porque o PFL entende que há incompatibilidade entre a função parlamentar e a função administrativa da Igreja Universal do Reino de Deus.

- Ele pode celebrar culto. Mas neste momento em que vive o parlamento, não é possível assumir a administração financeira da Igreja Universal - afirmou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

João Batista ainda pode recorrer da decisão na Convenção Nacional do PFL. Ele foi ontem até a tribuna para se defender das acusações e confirmar que os R$ 10 milhões eram provenientes da arrecadação feita pela Igreja Universal no último fim de semana, quando foi comemorado o aniversário de 28 anos da instituição. Num primeiro momento, Batista declarou que o dízimo não foi depositado porque sábado e domingo são dias de feriado bancário. Depois, jogou a responsabilidade nos bancos.

- Nenhum gerente gosta do que chamamos de dinheiro quente, que entra e sai da conta no mesmo dia.

O parlamentar aproveitou para elogiar a Igreja Universal, declarando que, apesar da formação superior - ele é economista - era alcoólatra, estava separado da mulher e pensou em se suicidar. Tudo teria mudado no momento em que entrou para a Universal.

- Para mim, esta igreja é tudo - defendeu.

Batista também lembrou que ''por absoluta fidelidade e convicção de fé'', fez questão de ter, na qualidade de presidente da Igreja, a responsabilidade de acompanhar o transporte dos recursos arrecadados. Ressaltou que estava exercendo uma função pastoral, extra parlamentar, ''como poderia fazê-la qualquer outro deputado, fosse ele médico, advogado ou radialista''.

- O dinheiro que estava sendo transportado não era do cidadão João Batista, nem do bispo João Batista, muito menos do deputado federal João Batista. Não se tratava de dinheiro ilegal, posto que sua origem e destino são conhecidos.

Apesar de dizer que, como integrante da Igreja, de sua boca não sairiam palavras de ódio, apenas de amor, João Batista não poupou críticas ao PFL.

- Lamento profundamente a decisão tomada pela Executiva do PFL, principalmente por não ter sido dado a mim oportunidade de defesa.

Integrantes do PFL pediram, na noite de segunda, para o vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Cassab, ouvir as explicações de João Batista. O deputado, que ficou toda a tarde prestando depoimento na Polícia Federal, alegou cansaço. Ontem, durante a reunião da Executiva, nova tentativa. Os celulares estavam desligados.

- O Gilberto Cassab é vice-prefeito de São Paulo, está afastado das atividades parlamentares. Eu não recebi um comunicado oficial.

João Batista espera que o partido não lhe vire as costas e acredita que foi vítima de uma ação arbitrária da Polícia Federal. O líder Rodrigo Maia afirmou estar ''triste'' e declarou que, se tivesse que escolher o melhor parlamentar da Igreja Universal, que votaria em João Batista. Mas lembrou que a decisão foi política, não jurídica.

- Temos que mostrar que o PFL prima pela ética e pela conduta de seus parlamentares - disse Maia.