Título: Estaleiros virtuais zarpam na frente
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 13/07/2005, Economia & Negócios, p. A17

As empreiteiras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiróz Galvão foram as grandes vencedoras da etapa de pré-qualificação da licitação de 42 petroleiros da Transpetro, a subsidiária de logística da Petrobras. Os consórcios liderados pelas empresas, que ainda não dispõem de estaleiros construídos no país, foram incluídos na lista de quatro pré-qualificados divulgada ontem pela comissão de licitação da estatal, conforme antecipou o jornalista Ricardo Boechat em sua coluna no JB. Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez disputam juntas no grupo que terá assistência técnica da japonesa Mitsui. Além dele, foram classificados os consórcios Rio Grande (com Queiróz Galvão, Aker Promar e Aker - que terá assistência técnica do estaleiro Samsung, da Coréia do Sul), o estaleiro Rio Grande, do controlador do grupo Arbi, Daniel Birmann, e o grupo Rio Naval, formado pelas brasileiras Sermetal, IESA e MPE.

Entre os sete desclassificados, pelo menos um, o consórcio Brasfels - que inclui a Keppel Fels, de Cingapura, e a Daewoo, da Coréia do Sul, como prestadora de assistência técnica - deverá entrar com recurso judicial que poderá atrasar a licitação de US$ 1,5 bilhão.

Dos classificados, apenas o Rio Naval dispõe de um estaleiro já construído: o Sermetal (antigo Ishibrás), no bairro do Caju, no Rio. O edital, lançado no ano passado, permite que grupos sem unidades instaladas possam disputar a licitação, o que gerou polêmica e acusações de favorecimento às empreiteiras. A brecha motivou, desde o início, críticas contundentes não só de representantes da indústria naval fluminense, mas também do governo do estado do Rio. O secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, classificou esses concorrentes de ''estaleiros virtuais''.

Ontem, após a divulgação do resultado, Victer voltou a criticar a licitação. Ele classificou o resultado de ''flagrante agressão contra a economia e as empresas já existentes no estado''. Em nota, o secretário foi além: ''A inexistência de estaleiros pré-qualificados em municípios que historicamente estão vocacionados para a construção naval, Angra dos Reis e Niterói, é uma demonstração concreta de uma (...) falta de sensibilidade e de compromisso com o trabalhador metalúrgico e suas famílias (...), promessa do atual presidente da República''.

Dos virtuais, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez construirão um estaleiro próximo ao Porto de Suape, em Pernambuco. O gerente de Construção Naval da Camargo Corrêa, Edilson Rocha Dias, revelou que, para isso, o consórcio investirá R$ 214 milhões com recursos do Fundo de Marinha Mercante, repassados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo ele, o banco deverá financiar entre 70% e 90% do valor total do empreendimento. O crédito, segundo ele, já está aprovado pelo banco.

Representante do grupo MPE, do consórcio Rio Naval, David Fischel acredita que a pré-qualificação permitirá ao grupo finalizar negociações com a Hyundai, para incorporá-la ao consórcio. Também possibilitará concluir as conversações com a Docas Investimentos - proprietária do terreno do Sermetal - para cessão do estaleiro. Segundo Fischel, o consórcio e Docas já teriam chegado a uma consenso quanto aos valores do negócio. Faltaria, segundo ele, apenas sacramentar o acordo.