Título: ''Bestas-feras em pleno picadeiro''
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/07/2005, País, p. A3
O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo de Lima e Silva, chamou os integrantes da CPI dos Correios de ¿bestas-feras em pleno picadeiro¿, em mensagem enviada aos servidores do órgão, provocando reação indignada de deputados e senadores, que pediram seu afastamento. À noite, o presidente em exercício, José Alencar, anunciou a demissão do diretor. Oficialmente, o Gabinete de Segurança Institucional (Abin), a qual à Abin é subordinada, informou que Mauro Marcelo de Lima e Silva, ¿alegando razões pessoais, apresentou seu pedido de demissão¿. A declaração de Mauro Marcelo foi feita em informativo veiculado na rede interna de computadores da agência no dia 6 de julho e pode levar a seu afastamento do cargo. No documento, que veio a público ontem, o diretor da Abin reclamava da convocação pela CPI do agente da Abin Edgard Lange.
¿ Nesse exato momento o que devo fazer é elogiar a conduta do profissional Lange, como um verdadeiro herói ao enfrentar as bestas-feras em pleno picadeiro ¿ ironizou.
O documento foi levado à CPI dos Correios pelo líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e conseguiu irritar tanto os governistas quanto a oposição. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), reagiu com irritação. Classificou Mauro Marcelo de ¿aprendiz de araponga¿ e ¿destrambelhado¿.
¿ Cabe ao presidente tomar as iniciativas, mas se esse destrambelhado fosse funcionário do Senado, já estava demitido desde o primeiro minuto ¿ afirmou Renan, antes do anúncio da demissão.
Também dizendo-se ¿indignado¿, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) apressou-se em esclarecer que as declarações do diretor-geral da Abin não refletiriam o pensamento do presidente Lula.
No início da noite, a CPI aprovou requerimento para que o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI ), Jorge Félix, e Mauro Marcelo sejam convocados para prestar depoimento. Embora o assunto dos depoimentos seja a investigação que a Abin fez nos Correios, a medida foi uma resposta à carta. Os integrantes da CPI também aprovaram outro requerimento solicitando que o Ministério Público abra processo criminal contra o diretor-geral. Na avaliação dos congressistas, Lima e Silva ¿ofendeu¿ deputados e senadores.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix, confirmou ao relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), no início da tarde, a existência do informativo.
¿ Esse servidor não tem compostura para exercer o cargo em que se encontra. Deve ser exonerado e processado ¿ defendeu deputado Roberto Freire (PPS-PE).
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), classificou a nota é ¿estarrecedora¿ e também pediu a demissão de Mauro Marcelo. Edgard Lange foi ouvido pela CPI porque investigou este ano indícios de corrupção nos Correios.
O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) acusou a Agência Brasileira de Inteligência pela gravação de um vídeo em que o funcionário Maurício Marinho aparece recebendo propina e detalhando suposto esquema de fraudes em licitação na estatal. Indicado para o cargo pelo PTB, Marinho afirma na conversa que operava junto com Jefferson. Alegando sigilo das informações, a Abin tentou primeiro impedir a convocação de Lange, depois queria que o depoimento fosse fechado, para não expor o agente.
¿ Tentamos até a última hora evitar o depoimento do Lange na CPI, mas não foi possível. Os estragos à atividade profissional do Lange, mais os estragos à nossa reputação, só poderão ser avaliados com o tempo ¿ afirma Mauro na nota.
O diretor-geral da Agência reclama ainda na mensagem interna da suposta falta de empenho da Advocacia Geral da União (AGU) na proteção do agente Lange.