Título: Genro: o PT dilapidou seu capital moral
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/07/2005, País, p. A4

O novo presidente do PT, Tarso Genro, fez nesta quarta-feira duras críticas ao partido, que acusou de ter tido ¿um comportamento um pouco arrogante¿ e ter tentado ser ¿monopolista da verdade¿. O sucessor de Genoino fez uma longa autocrítica: ¿ Nós dilapidamos o nosso capital moral perante a sociedade. Dilapidamos a nossa referência ética porque não havia duros controles no partido, para que isso fosse reprimido, controlado ¿ afirmou.

Disse também que o governo Lula ¿ficou devendo¿ uma política de desenvolvimento econômico progressista. Apesar disso, Genro acredita que em breve haverá uma rediscussão do modelo de desenvolvimento econômico ¿capaz de distribuir renda, reduzir as desigualdades e aumentar a inclusão social¿.

¿ O governo do presidente Lula tem conquistas extraordinárias que o colocam como superior a todos os outros. O que ocorreu é que não criamos ainda os alicerces para a ultrapassagem do modelo de desenvolvimento imposto pelo sistema financeiro internacional ¿ declarou, sem modéstia.

Na declaração mais enfática desde que assumiu a presidência do partido, no último fim de semana, em substituição a José Genoino, Genro disse a jornalistas que o PT tem de fazer um duro processo de autocrítica e ¿se for preciso, pedir desculpas à sociedade¿.

¿ A crise do partido é muito maior do que a crise política do governo. Nossa crise é de fundamentos ¿ comparou.

Ministro da Educação até o próximo dia 27, quando deixa o cargo, Tarso Genro chegou a Paris na manhã desta quarta-feira, na comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem conversou durante a viagem de doze horas. Genro contou que Lula está ansioso em relação à nova direção:

¿ Ele espera que o PT recupere seu espaço, junto à sociedade, como partido identificado com a ética.

Para Genro, a atitude arrogante levou o partido a receber um ¿ataque dobrado¿, quando começaram a ser divulgadas denúncias de irregularidades, e agora, seria a hora do PT buscar a apuração dos casos.

¿ Não podemos lavar nossa roupa suja dentro de casa, temos de lavar fora. Temos de dialogar com a sociedade, apontar aonde erramos, ir à Comissão de Ética investigar quem são as pessoas que assumiram as responsabilidades por erros e se os erros são meras irregularidades ou ilegalidades ¿ acrescentou.

O novo presidente do PT voltou a dizer que o partido errou na relação com o governo.

¿ Não é uma relação transparente, é uma relação feita de maneira velada para o partido e intransparente para a sociedade ¿ sentenciou.

Genro quer tornar obrigatória uma relação ¿previsível, pública e transparente¿, do PT com o governo. No entanto, ele acredita que a crise política não deve afetar o projeto de reeleição do presidente Lula.

¿ O presidente mantém seu prestígio firme, ele não tem vínculo com a crise. As denúncias existem, são sérias e devem ser apuradas, mas estão começando a perder a força.

Tarso Genro não acredita, no entanto, que seu partido tenha condições de influir nos rumos do atual governo.

¿ O governo tem de navegar, com pequenos ajustes, como está, até o fim do mandato.