Título: Nova chance para a Baixada
Autor: Duilo Victor
Fonte: Jornal do Brasil, 14/07/2005, Rio, p. A13

A nova rodada de negociações para a crise da saúde no Rio - aberta com o anúncio de que o ministro Saraiva Felipe pretende se reunir com o prefeito Cesar Maia e a governadora Rosinha Matheus - criou para a Baixada Fluminense mais uma chance de colocar a região entre as prioridades do Ministério. Com 4 milhões de habitantes, a Baixada é apontada como uma das origens dos pacientes que superlotam as unidades públicas da capital. Sem uma rede de atendimento básico satisfatória, os 11 municípios sobrecarregam as emergências dos grandes hospitais. De acordo com Oscar Berro, presidente do Cisbaf (Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense), foram levantadas cinco prioridades de investimento para a saúde na Baixada que ainda dependem de um interlocutor com o governo federal para que entrem definitivamente em pauta. Oscar pretende chamar a atenção para um investimento de R$ 280 milhões em dois anos e meio, que seriam divididos entre estado e União, voltados principalmente para a modernização de 25 unidades pré-hospitalares, como postos de saúde que desafogariam as filas nos hospitais, inclusive no município do Rio de Janeiro.

Ele reclama que, durante o tempo em que a crise no sistema de saúde da capital estava em discussão, sempre havia algum entrave para que estado e União tratassem a Baixada com uma política de saúde diferenciada, por causa da ''carência histórica da região''.

- Primeiro, é necessário que o acordo entre a Prefeitura do Rio, o estado e a União seja finalmente assinado. Os compromissos com o Ministério da Saúde não podem ser descontinuados por causa de troca de ministros - responde Oscar. Conforme o Jornal do Brasil noticiou na terça-feira, mesmo quatro meses depois da intervenção do Ministério da Saúde no Rio, o convênio entre a Prefeitura do Rio e a União para resolver os problemas dos hospitais da cidade ainda não saiu do papel.

Em um levantamento feito durante dois meses pelo Cisbaf e que seria entregue na segunda-feira para o Ministério da Saúde, além dos investimentos nas unidades, existem outras prioridades. Segundo a pesquisa, é necessário aumentar com urgência os investimentos nos programas Saúde da Família e em unidades de atendimento médico de média e alta complexidade, como médicos e equipamentos dos setores de cardiologia, oftalmologia e oncologia. Berro exemplifica que a falta de unidades públicas especializadas no tratamento de câncer na Baixada Fluminense obriga que o paciente venha a buscar atendimento nos hospitais da capital.

- Apenas 13% da população da Baixada dispõem de plano de saúde, contra cerca de 50% na capital. Com este número, fica claro onde os investimentos na saúde pública têem que ser prioridade - reivindica o presidente do Cisbaf.

O presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio, deputado Paulo Pinheiro (PT), concorda que é preciso rediscutir a forma como os municípios na Baixada pleiteiam recursos do governo federal para o atendimento básico de saúde, o que inclui o sistema de atendimento médico familiar e os postos de saúde.

- Nos hospitais da capital, apenas 20% dos atendimentos são realmente casos de emergência. Todo o resto são atendimentos ambulatoriais e exames que poderiam ser feitos nos postos - responde. Pinheiro diz, no entanto, que a procura dos pacientes da Baixada por atendimento na capital não pode ser apontada como determinantes para a sobrecarga da rede pública no Rio.

Ele afirma que apenas 18% das internações nos grandes hospitais da capital são de pacientes de outros municípios, um índice baixo em comparação com outras regiões metropolitanas, segundo ele.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde da Zona Oeste, Adelson Alípio, diz que a mudança de ministro foi um retrocesso para acabar com a crise na saúde carioca. As longas filas nas emergências de hospitais como o Miguel Couto e Souza Aguiar também são causadas, segundo ele, por falta de atendimentos ambulatoriais simples na Zona Oeste. Não há em toda a região, de acordo com Adelson, um único posto de saúde que faça exames de mamografia.