Título: Prisão causa reações no Congresso
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 14/07/2005, Economia & Negócios, p. A19

A Operação Narciso, que resultou na prisão temporária de Eliana Tranchesi, proprietária da Daslu, provocou fortes reações no Congresso Nacional. Suspeita de sonegar cerca de R$ 10 milhões em impostos, a empresária recebeu de parlamentares de oposição apoio declarado. O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), amigo de Eliane, considerou a operação injusta e identificou uma ''manobra'' do governo para mudar o foco das atenções.

- Vivemos numa época de estado policial, onde querem claramente desviar o fato dos verdadeiros ladrões para outros setores. Eliana está sendo injustiçada - afirmou ACM, criticando a ação da Polícia Federal na Operação Narciso. - E o dinheiro da cueca (referência à prisão de José Adalberto Vieira, assessor do deputado estadual cearense José Nobre Genoino, irmão de José Genoino, ex-presidente do PT, quando viajava com US$ 100 mil sob a roupa)? E uma série de outras evidências que chegaram até o PT? Por que não invadiram a sede do partido?.

Líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), levou o assunto ao plenário da Casa. Ele questionou a isenção da PF no caso e disse que se tratava de uma ''manobra protelatória do governo''.

- Reconheço que a Daslu é um símbolo da desigualdade social do país, mas da maneira como estão conduzindo, não concordo com a ação da Polícia.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) avaliou o episódio como uma ''autofagia declarada do governo e da própria PF''. Para ele, a ação da PF na loja paulistana foi extravagante e não merecia tamanha repercussão. Fruet disse acreditar que o governo parece estar querendo ''mostrar serviço'', classificando a ação como tentativa do governo de validar o discurso do presidente Lula de que ''nem mesmo os ricos ficarão impunes''.

- Se essa era a mensagem que o governo tentou transmitir, acredito que conseguiu. Mas isto não passa de um argumento populista que se esvaziará muito rapidamente - afirmou.

Já parlamentares governistas saíram em defesa da Polícia Federal. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) rebateu as críticas do vizinho de gabinete, o potiguar José Agripino (PFL).

- Me admira o senador achar que a ação da Polícia está sendo exagerada, se ontem mesmo seu partido expulsou um deputado que carregava, por coincidência, em algumas malas, a mesma quantia supostamente sonegada pela dona da Daslu - comparou, referindo-se à prisão, na última segunda-feira, do deputado federal João Batista Ramos da Silva em Brasília, quando viajava transportando em um jatinho R$ 10 milhões em dinheiro vivo.

Houve reações negativas também entre o empresariado. Em nota, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) considerou a prisão da empresária ''extremamente grave'': ''O combate à criminalidade não pode prescindir do respeito ao Estado de Direito, sendo inadmissível que alguém possa ser preso (...) sem que a segurança de sua prévia culpa esteja evidenciada e que, pior ainda, seja essa prisão realizada de modo extravagante, com exibição de algemas, com publicidade afrontosa, como um espetáculo pirotécnico''.