Título: João Paulo Cunha entra no rol de suspeitos
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sérgio Pardellas e Hugo Marqu
Fonte: Jornal do Brasil, 15/07/2005, País, p. A2

Passos dados pelo ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e por pessoas ligadas a ele em 2003 e 2004 colocam o petista de vez nas investigações da CPI dos Correios. Entre os meses de setembro de 2003 - quando foi lançado o edital para escolher a agência de publicidade da Câmara - e outubro do mesmo ano - quando a SMPB de Marcos Valério Fernandes de Souza foi declarada vencedora - João Paulo reuniu-se pelo menos três vezes com Valério. A primeira dessas reuniões aconteceu na véspera da ida da mulher de João Paulo, Márcia Regina Milanésio Cunha, à agência do Banco Rural, em Brasília, onde o suposto Mensalão, que seria operado por Valério, era sacado.

Dados fornecidos pela administração do Brasília Shopping à Polícia Federal, aos quais o Jornal do Brasil teve acesso, mostraram que Márcia esteve na agência do Banco Rural, onde o suposto mensalão era sacado, no dia 4 de setembro de 2003. Nove dias depois, em 15 de setembro, a Câmara lançou o edital para escolher uma agência de publicidade para fazer campanhas da Casa. A SMPB, uma das participantes, era velha conhecida de João Paulo, já que tinha feito a campanha do petista para a presidência da Casa em janeiro de 2003. No dia 17 de setembro, ambos reencontram-se, de acordo com anotações que constam na agenda da ex-secretária Fernanda Karina Somaggio. Neste dia, aparecem duas anotações: um encontro de Valério com o consultor de comunicação da Câmara, Luis Costa Pinto, o ''Lula'', na sede da empresa DNA e um ''café com João''.

No mês seguinte, nova reunião do grupo. As anotações de Fernanda Somaggio indicam um café da manhã, em 20 de outubro de 2003, no Hotel Gran Mercure, em São Paulo, com a participação de João Paulo, Marcos Valério, Luis Costa Pinto, do então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, e do tesoureiro do PT paulista, Antonio Santos. Onze dias depois, a SMPB foi proclamada vitoriosa na concorrência para a publicidade da Câmara, emplacando um contrato de R$ 9 milhões, posteriormente acrescido em R$ 1,9 milhão. O contrato foi assinado em 31 de dezembro de 2003.

- Essas reuniões trazem João Paulo para a CPI - alertou o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN).

Não foi apenas a mulher de João Paulo Cunha que visitou a agência do Banco Rural. Levantamentos feitos pelo JB mostraram que a secretária de João Paulo, Silvana Paz Japiassú, esteve no banco no dia 16 de abril de 2004. Silvana trabalha com o petista desde que este presidiu a Casa e continuou quando o mandato de presidente se encerrou, em janeiro deste ano. Os dados encaminhados pelo Conselho de Controle da Atividades Financeiras (COAF) à CPI dos Correios, no entanto, não apontam coincidências entre visitas e saques supostamente vinculados ao pagamento do mensalão.

João Paulo emitiu ontem uma nota oficial, justificando a ida da mulher e da secretária à agência do Banco Rural em Brasília. De acordo com a nota, ambas foram ao banco tratar de assuntos relativos a pendências de contas de TV a cabo, e o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, já teria sido comunicado.

O ex-presidente demonstrou preocupação com o possível surgimento de suspeitas sobre seu nome na CPI dos Correios. Na noite de terça, ele apareceu de surpresa na Comissão, ao final dos trabalhos. Conversou com o presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS) e com pelos menos dois deputados: Denise Frossard (PPS-RJ) e Ônix Lorenzoni (PFL-RS).

O ex-presidente da Casa teria justificado que sua mulher, ele e mais duas pessoas de confiança teriam contas no Banco Rural para efetuar pagamentos pessoais, como água, luz e telefone. A conversa tanto com Ônix quanto com Frossard foi sobre os contratos de publicidade da SMPB com a Câmara.

- Ele disse que o processo de licitação e das pesquisas de opinião estavam dentro dos trâmites legais - reforçou Ônix.

A SMPB foi intermediária do contrato da Câmara com o instituto de pesquisas Vox Populi, em 2004. O contrato, para a realização de pesquisas de opinião sobre a imagem da Câmara, custou R$ 757 milhões aos cofres da Casa.

Denise Frossard disse que o petista demonstrou interesse em colocar à disposição toda a documentação envolvendo a contratação da SMPB. Chamou a atenção da deputada o nervosismo de João Paulo.

- É natural ele estar nervoso, o nome está em julgamento, a pessoa sempre fica exposta. E se não tiver nada de errado contra ele? - reconheceu a juíza.

O JB tentou entrar em contato com o ex-presidente da Câmara, mas até a noite de ontem não obteve retorno. Luís Costa Pinto também não foi localizado.

Ontem, a Polícia Federal realizou uma operação de busca e apreensão de documentos em duas agências do Banco Rural, em Belo Horizonte e em Brasília. O objetivo da ação foi buscar novos documentos que possam ser comparados com os relatórios do Coaf.