Título: Faisalabad, o elo no Paquistão
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/07/2005, Internacional, p. A8

Os serviços secretos paquistaneses confirmaram ontem a conexão com os ataques de Londres ao prender quatro pessoas em Faisalabad. Um dos quatro homens-bomba de Londres, Shehzad Tanweer, esteve na cidade em 2003 e se encontrou com um homem mais tarde preso por terrorismo.

Uma das organizações locais nas quais as ligações com Tanweer, que voltou ao país em 2004 ''para estudar'', segundo a família, são investigadas pela Inteligência é o Jaish-e-Mohammad (''Exército de Maomé''), banida pelo governo. Outra é o Lashkar-e-Taiba. Ambas possuem um histórico de ataques na Caxemira, mas especialistas dizem que não possuem o nível de organização e coordenação que as operações da Al Qaeda exibem.

Na primeira visita, Tanweer encontrou-se com Osama Nazir, detido em dezembro do ano passado pelos atentados em uma igreja de Islamabad que deixou vários mortos, entre eles dois americanos. A reunião se deu em uma mesquita de Faisalabad. A família do homem-bomba é da cidade. Nazir é integrante do Jaishm, cujo líder foi também ''detido para esclarecimentos''. Do grupo faziam parte, ainda, o extremista britânico, de origem paquistanesa, Omar Saeed Sheikh (condenado à morte pelo seqüestro e execução do jornalista americano Daniel Pearl em 2002) e Khalid Sheik Mohamed, ligado à Al Qaeda, que foi o verdugo de Pearl e o organizador dos ataques de 11 de setembro nos EUA.

Shehad Tanweer, segundo agentes de Inteligência, passou três meses no país em 2004. Ficou em Lahore e passou o tempo freqüentando mesquitas e madrassas, as escolas islâmicas. Uma delas era em Muridke, nos arredores de Lahore. O distrito é tido como a base para a Jamaat-ud-Dawa, uma organização islâmica humanitária que funciona como fachada para a Lashkar-e-Taiba. Qualificando a acusação como ''propaganda da imprensa britânica'', o grupo nega ter conhecido o homem-bomba e garante que ''ataques contra civis não são dignos de um muçulmano''.

A confusão em torno dos nomes das organizações é proposital. No esforço contra o extremismo, o presidente Pervez Musharraf baniu a existência dos grupos. Porém, quase todos continuam sob nomes diferentes. Ontem, depois de prometer ao primeiro-ministro Tony Blair total apoio na investigação, Musharraf ordenou que a polícia impeça que façam coleta de dinheiro, usem armas e exibam material que incite o ódio.