Título: Engenheiro suspeito é preso no Cairo
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/07/2005, Internacional, p. A8

A polícia do Cairo capturou ontem, em uma casa na capital egípcia, o pesquisador Magdy Mahmoud Mustafa el Nashar. Formado em Engenharia Química na Carolina do Norte (EUA), El Nashar, de 33 anos, fazia doutorado em Bioquímica na Universidade de Leeds, Grã-Bretanha. Vinha sendo procurado desde os atentados em Londres, no dia 7, como o provável coordenador da célula da Al Qaeda responsável pelas bombas que deixaram 54 mortos e centenas de feridos. Num apartamento alugado por ele, investigadores encontraram explosivos de um tipo de fabricação caseira que é o preferido dos terroristas.

A Scotland Yard havia chegado ao egípcio depois de quebrar o sigilo do celular de Hassib Hussein, um dos quatro homens-bomba. Nele, constavam ligações para o senhorio do doutorando, a quem este pedira, ''em nome de um amigo'', um segundo imóvel para alugar além do que usava.

A presença, na banheira do apartamento, de um tipo de explosivo feito a partir da manipulação de produtos comuns complicou a vida do engenheiro. O TATP, ou peróxido de triacetona, é o mesmo material encontrado no sapato-bomba de Richard Reid, britânico também ligado a grupos islâmicos que tentou se explodir a bordo de um vôo Londres-Boston, em 2001. O TATP, que não é detectado por cães farejadores, é apelidado pelos terroristas de ''Mãe de Satã''. Altamente volátil, sensível ao calor, à fricção e ao choque, foi aperfeiçoado nos campos de treinamento da Al Qaeda no Afeganistão. Acredita-se que muitos integrantes da rede dominam essa tecnologia. Especialistas dizem que o estrago em Londres é compatível com o uso do TATP.

De acordo com o Ministério do Interior do Egito, El Nashar nega qualquer envolvimento com os ataques e sustenta que estava no Cairo, passando 45 dias de férias. O suspeito afirma que havia comprado passagem para retornar a Londres e que pretendia retomar o curso. A bolsa em Bioquímica, sobre ''substâncias químicas inativas com aplicação na indústria de alimentos'', é patrocinada pelo Centro Nacional de Pesquisas, órgão estatal egípcio.

No fim do dia, o ministro do Interior Habib el Adli declarou a um jornal local que ''não via vinculação entre o engenheiro e a Al Qaeda''. Funcionários do ministério disseram que Londres estaria pressionando pela extradição do suspeito, mas a decisão só será tomada ''se algum indício mais forte surgir''.

A busca e detenção de El Nashar surpreendeu alguns conhecidos britânicos.

- Ele tem uma grande personalidade. Jamais poderia esperar esse tipo de ação vinda de Magdy, é impossível - afirma Kadhem al Rawi, doutor em Islamismo na Universidade de Wales.

Equipes dos serviços secretos americanos e britânicos ainda procuram o homem que seria o cérebro de toda a operação. Presume-se que seja um britânico de origem paquistanesa, com treinamento operacional no Afeganistão e lugar-tenente de um dos nomes do Estado-maior da Al Qaeda. A Inteligência descobriu que essa cúpula se reuniu no Waziristão, uma província tribal do Paquistão, há um ano e seis meses. No encontro, uma lista de futuros alvos da rede terrorista foi finalizada - entre os quais estavam Madri e Istambul. O controlador de Londres teria participado do planejamento das duas operações e, como outros quadros qualificados, estaria em um refúgio no Iraque. Os mesmos oficiais americanos e da Grã-Bretanha dizem que o cérebro tem vínculos com um dos operadores do grupo de Osama bin Laden sob custódia dos EUA em local ignorado.

Ontem, policiais voltaram a vasculhar pontos da cidade de Leeds, onde há uma grande comunidade muçulmana. O alvo principal foi uma loja na qual são vendidos livros islâmicos e DVDs, situada a apenas duas quadras de onde os Shehzad Tanweer, Hussein Habib, Lindsay Germaine e Mohamed Saddiq Khan, os quatro terroristas, viviam. Alguns líderes da comunidade afirmaram que o grupo pode ter sido influenciado pela literatura radical. Os agentes não revelaram se haveria alguma ligação maior entre a loja e a célula da Al Qaeda. Alguns vizinhos, no entanto, disseram que o dono ou gerente do estabelecimento costumava se reunir com os jovens ali.