Título: Chefe do Estado-Maior ameaça EUA
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/07/2005, Internacional, p. A11

Os Estados Unidos classificaram ontem como ''irresponsável'' a declaração de um general chinês advertindo que a China está pronta para usar armas nucleares se Washington atacar seu país para defender Taiwan.

O jornal londrino Financial Times publicou que Zhu Chenghu, general do Estado-Maior - líder do Exército de Libertação popular -, estava expressando seu ponto de vista pessoal e não tinha a intenção de antecipar um conflito com os EUA. Ainda assim, afirmou que Pequim não teria outra opção a não ser a nuclear, em caso de ataque.

- Se os americanos posicionarem seus mísseis e munição guiada contra o território chinês, vamos ter que responder com armas nucleares - disse Zhu, em uma coletiva para correspondentes estrangeiros.

Um porta-voz do ministério de Relações Exteriores ressaltou que o general não estava falando em benefício do governo. Outro representante acrescentou, mais tarde, que a pasta estava investigando o assunto. O ministro da Defesa, por sua vez, declinou fazer qualquer comentário, justificando que a entrevista foi organizada pela chancelaria.

Em Washington, onde há grande ansiedade por acordos econômicos e estratégicos com o gigante asiático, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, expressou ''esperança de que as palavras do general não reflitam a perspectiva do governo chinês''.

- Não vi todas as citações, mas o pouco que vi classificaria como irresponsável - acrescentou.

Bryan Whitman, representante do Pentágono, se limitou a comentar que Zhu ''falou sobre uma situação hipotética''. Em viagem a Pequim, no início deste mês, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, assegurou que não haveria mudança unilateral no status quo sobre Taiwan.

O ministro de defesa taiuanês, por sua vez, recusou-se a comentar diretamente as declarações de Zhu. Mas o porta-voz Liou Chih-chien afirmou:

- O uso de armas nucleares é algo que a comunidade internacional vai condenar.

A China reivindica a ilha como sua desde 1949 e insiste em trazer o governo democrático para dentro do regime. Em março, o Parlamento chinês aprovou uma lei anti-secessão, autorizando o uso de ''meios não-pacíficos'' para cumpri-la.

A medida, entretanto, não é bem vista no resto do mundo. O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, pediu que a China retome o diálogo com Taiwan antes que Pequim sedie os Jogos Olímpicos, em 2008.

- Este também seria um grande avanço na posição internacional do país e em sua reputação como ator global com uma responsabilidade particular pela paz e segurança no Leste da Ásia - discursou Barroso, em sua primeira visita à China como líder da UE.

Mas Pequim ainda se recusa a negociar com o presidente de Taiwan, Chen Shui-bian, cuja postura é pró-independência. O governo chinês ameaça atacar a ilha formalmente caso se declare um Estado.

Segundo Zhu, a escalada do conflito se deveria ao fato de a China não ter o mesmo poder de fogo convencional que os EUA.

- Se os americanos estiverem determinados a interferir, estaremos determinados a atacar - prometeu. - Nós, chineses, vamos nos preparar para a destruição de todas as cidades ao Leste de Xian. Mas claro que os americanos também terão que estar preparados para o fato de que centenas de suas cidades serão destruídas pelos chineses.