Título: BMG privilegiou petistas em 2002
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/07/2005, País, p. A4
O banco mineiro BMG S.A., junto a quem o PT, sob a orientação do ex-tesoureiro Delúbio Soares, contraiu em 2003 um empréstimo de R$ 2,4 milhões avalizado por Marcos Valério, privilegiou o partido do presidente Lula no financiamento de campanhas eleitorais no ano passado. Nas eleições municipais de 2004, do total de R$ 795,7 mil investidos em 27 campanhas eleitorais, R$ 505,5 mil foram parar nas contas de 21 candidatos petistas em todo o país. A instituição também financiou a campanha de três integrantes do PDT e um do PSDB, PFL e PSB. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Dos 21 petistas financiados pelo banco BMG, 11 concorreram a prefeito ou a vereador no Rio Grande do Sul. Apenas nas campanhas de candidatos do estado gaúcho, o banco investiu R$ 115 mil. Entre os contemplados pelo BMG está o candidato a prefeito de Porto Alegre pelo PT, Raul Pont. Ele recebeu R$ 30 mil.
A maior doação individual do banco nas eleições municipais de 2004, no entanto, foi para o candidato apoiado pelo governador Aécio Neves (PSDB) à prefeitura de Belo Horizonte, João Leite da Silva Neto. O banco BMG doou R$ 200 mil.
No PT, a maior doação individual do BMG foi para a campanha derrotada de Angelo Vanhoni à prefeitura de Curitiba: R$ 100 mil, seguida de Moema Isabel, da cidade de Lauro de Freitas na Bahia, que recebeu R$ 90 mil para a campanha.
No estado do Rio de Janeiro foram registradas apenas duas grandes doações. Para a campanha de Antonio Pedro Siqueira da Costa (PFL) a vereador na capital carioca e de Laury Villar (PDT) à prefeitura de Duque de Caxias, ambas no valor de R$ 30 mil.
O levantamento foi feito pelo gabinete do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS-DF) a pedido do Jornal do Brasil. Para chegar aos valores doados pela instituição financeira nas eleições municipais de 2004, ao sistema do TSE foram submetidos os três registros de CNPJ do grupo BMG: Banco BMG S.A., BMG Leasing S/A Arrendamento Mercantil e BRAMAGRAN BMG LTDA.
Os laços entre o BMG e a cúpula petista teriam se estreitado no início de 2003 graças a intervenção direta do publicitário Marcos Valério, acusado de ser um dos operadores do mensalão, que avalizou um empréstimo de R$ 2,4 milhões ao partido naquele ano.No último dia 8, ao depor na Polícia Federal o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares reconheceu que foi Valério quem apresentou a ele e ao partido os dirigentes dos bancos BMG e Rural.
Questionado pelo JB sobre o motivo pelo qual decidiu investir majoritariamente em campanhas de candidatos do PT em 2004 , o BMG esclareceu que fez contribuições de campanha nas eleições municipais do ano passado respeitando a legislação vigente. Segundo o banco, todas as suas doações respeitaram regras do processo democrático.
O BMG disse ainda não ter recebido orientação ou firmado qualquer acerto com o então ministro José Dirceu para o financiamento de campanha do PT. Também negou que nos encontros com a cúpula do partido, teria celebrado algum compromisso com Delúbio, que envolvesse doações a campanhas de petistas ano.