Título: Delúbio assume caixa 2 do PT e de partidos aliados
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/07/2005, País, p. A4

Ontem, foi a vez de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, ir para a televisão admitir o uso de caixa 2 (dinheiro não declarado) pelo PT em suas campanhas políticas e também por partidos aliados ao Governo Lula para justificar os empréstimos e saques milionários feitos em negociação com Marcos Valério Fernandes de Souza. Valério é o suspeito de ser o operador do pagamento de mesada para parlamentares votarem a favor do governo. Delúbio, assim como fez Marcos Valério no dia anterior, fez questão de frisar várias vezes que não existe o chamado mensalão dentro do Congresso.

- Essa história do mensalão não é verdadeira. É mentira da pessoa que apresentou isso à nação (deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Não tem compra de voto de deputado para votar a favor do governo - afirmou.

Ele também confirmou que a maior parte dos recursos do caixa 2 foi obtida por meio de financiamentos feitos por Marcos Valério. Depois de recorrer à Procuradoria Geral da República, Valério também deu entrevista ao Jornal Nacional.

Coincidentemente, a entrevista de Delúbio também foi precedida de um encontro seu com o procurador da República, Antônio Fernando de Souza. Ele negou, entretanto, que a estratégia de depor à Procuradoria da República e, em seguida, vir à mídia, foi combinada com Valério.

Segundo Delúbio, os empréstimos foram obtidos primeiramente para quitar as dívidas restantes da campanha eleitoral de 2002. Em seguida, outros empréstimos foram tomados para ajudar a financiar a campanha eleitoral do PT e dos partidos da base aliada em 2004.

Pelos cálculos do ex-tesoureiro, os empréstimos tomados por Valério em benefício do PT totalizaram cerca de R$ 39 milhões. A soma dos empréstimos conseguidos junto a Valério com outros empréstimos feitos pelo PT atinge R$ 160 milhões, o que seria a dívida total do partido, segundo Delúbio em depoimento ao Ministério Público Federal. Para o ex-tesoureiro, Valério contraiu esses empréstimos, sem qualquer garantia, para ampliar a ligação de suas agências de publicidade com o partido.

- Ele queria ser o publicitário do PT - afirmou. No entanto, a agência de Valério tinha contratos importantes de publicidade com estatais, como o Banco do Brasil.

Num dos trechos da entrevista, Delúbio Soares diz que o acerto foi feito de boca entre ele, Delúbio, e Valério, e que ninguém mais da antiga direção do PT soube de nada. Delúbio fez questão de inocentar nominalmente José Genoino, o ex-presidente do partido, o ex-ministro José Dirceu e Lula, assumindo sozinho a responsabilidade pelo que fez. Depois, deu a entender que a antiga direção nacional do PT sabia do esquema.

- Genoino sabia que tinha que fazer as campanhas, mas estou assumindo essa questão.

Além de Delúbio, faziam parte da cúpula petista José Genoino (presidente), Silvio Pereira (secretário-geral) e Marcelo Sereno (secretário de Comunicação). Os quatro deixaram os cargos na semana passada, anunciando o afastamento por decisão própria.

A situação de Delúbio e de Valério se complica ainda mais depois dessas revelações. Integrantes da CPI Mista dos Correios já falam em pedir a prisão dos dois. Delúbio vai depor na CPI na próxima quarta-feira. Valério já falou aos parlamentares e sua reconvocação já foi aprovada. A expectativa é ouvi-lo novamente até a primeira semana de agosto.

Os pontos em comum nos dois depoimentos acendeu um alerta vermelho para a oposição. Alguns parlamentares levantam a suspeita de que os discursos tenham sido combinados para livrar de qualquer suspeita o governo do presidente Lula e o PT das denúncias de corrupção e compra de votos.

Mas o valor das dívidas contraídas por Marcos Valério representa o dobro o total dos débitos reconhecidos pelo partido. O secretário de Finanças do PT, deputado José Pimentel (CE), que assumiu com Tarso Genro, afirmou que essa dívida oficial está estimada em R$ 20,4 milhões, sem aplicar os juros e correção monetária.

Com Folhapress