Título: Guanabara, capital Barra
Autor: Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 17/07/2005, Rio, p. A23

Ela já foi alvo de definições pejorativas, como Miami brasileira ou paraíso dos emergentes. Mas cariocas que antes torceram o nariz para a Barra da Tijuca ainda podem se arrepender: um recente estudo elaborado por urbanistas aponta o bairro como a possível solução para problemas que afetam toda a cidade, como o trânsito. Mais do que o ''coração da Guanabara'', como previu Lúcio Costa em 1969, Vicente de Castro e Denise Vogel Custódio concluem que a Barra será o ponto de equilíbrio do Rio, entre o Centro histórico e o pólo industrial de Santa Cruz. Para se tornar o novo centro de inteligência do Rio, gerando empregos e com as atividades econômicas mais qualificadas, a Baixada de Jacarepaguá - em especial a Barra - precisa superar problemas que são velhos conhecidos dos moradores da área. Afinal, com a atual estrutura de saneamento, transportes e moradia popular, a região não suportaria as mais de 1, 1 milhão de pessoas que abrigará em 2020, como prevêem os urbanistas. Em 2000, eram cerca de 680 mil moradores, segundo Vicente.

- A Barra exerce um papel importante para todo o Rio. Se a cidade não tivesse expandido para lá, a Zona Sul hoje estaria completamente degradada - observa Vicente, um dos autores da projeção demográfica, feita com base nos dados dos censos 1991 e 2000.

Ele acredita que, diferentemente do que aconteceu com Centro, Copacabana e Ipanema - que deixaram de funcionar como pólos de centralidade - a Barra veio para ficar. Enquanto no Centro ficariam o comércio varejista e em Santa Cruz, o centro industrial, a Baixada de Jacarepaguá se transformaria no centro administrativo-financeiro. O prefeito Cesar Maia concorda com as previsões dos urbanistas:

- A Barra será uma rótula em relação ao Porto de Sepetiba, Zona Oeste e Zona Norte.

Mas o prefeito admite que o grande desafio para que a região se consolide como um novo pólo é ''transporte, transporte, transporte''. O engenheiro de tráfego e professor da UFRJ Fernando MacDowell observa que além da ampliação da Auto-estrada Lagoa-Barra - hoje na Linha Amarela trafegam 340 mil carros por dia - é fundamental a implantação de transportes de massa, como a Linha 4 do metrô e o Transpan, que ligaria a Barra ao aeroporto Galeão. Se hoje, segundo cálculos de engenheiro, são 527 horas de tráfego congestionado por ano nos acessos ao bairro, em 2020, se nenhuma medida for tomada, há 80% de chances de se chegar a 3.684 horas de engarrafamento por ano.

- Os trens também terão grande importância para as empresas que vão se fixar em torno de Sepetiba. O porto terá capacidade para movimentar 6 milhões de contêinerres por ano. Hoje, a movimentação anual do país é de 4 milhões - acrescenta MacDowell.

O prefeito diz que a Secretaria de Transportes desenvolve projeto de corredor exclusivo entre Barra e Madureira. Ele diz que a prefeitura tem projetos para o setor mas as fontes de financiamento não estão definidas.

Outra preocupação do presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosky, diz respeito às obras de esgoto e abastecimento de água. Segundo ele, se não for concluída a construção de uma adutora - cujos primeiros dois quilômetros foram feitos pela própria câmara em 1998 - o bairro pode sofrer com a falta de água em dois anos.

- A previsão era de que esta adutora só daria conta do abastecimento até 2004. Corremos o risco de novamente ter que depender dos caminhões-pipa - preocupa-se Delair.

Apesar de estar otimista com o Pan 2007, Carlos Fernando de Carvalho, presidente da Cravalho Hosken - que encomendou o estudo aos urbanistas - ressalta a importância do entendimento entre as três esferas de governo.

- Se não forem tomadas providências, corremos o risco de sofrer com a falta d'água durante os jogos. A segurança merece atenção.

Diretor do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares, Pedro De Lamare acredita que este seja um dos empecílios para um crescimento ainda maior dos restaurantes na Barra: o medo de se deslocar até o bairro:

- Outro dia mesmo me vi no meio de um tiroteio quando voltava para a Zona Sul pela Niemeyer. Acaba que os restaurantes ficam restritos aos moradores da Barra.