Título: Renda fixa e encolhida
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 18/07/2005, Economia & Negócios, p. A19

Acostumado a décadas de artifícios de correção de salários e investimentos que acompanhavam a inflação galopante, antes do plano Real, o investidor brasileiro cultiva hoje o hábito de criticar a rentabilidade oferecida pelas instituições financeiras às aplicações - mesmo que reflitam as maiores taxas de juros reais do mundo. Pois este mesmo investidor pode se indignar com a conclusão de um recém-concluído estudo, que mostra que apenas 10 entre os 119 fundos de investimento em renda fixa mais antigos e robustos do mercado conseguiram oferecer o retorno que os gestores se propuseram a atingir.

O estudo, realizado pelo diretor acadêmico do Ibmec, Antônio Duarte, e o economista Hélio Vieira Braz, partiu da avaliação de todos os 2.940 fundos de renda fixa classificados pela Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid) em dez categorias - entre elas, multimercados (que investem em diversos ativos, inclusive em renda fixa, em alguns casos), curto prazo (que investem em títulos públicos com vencimento inferior a 360 dias), referenciados DI (que acompanham a evolução da Selic) e crédito (que investem em ativos que compreendem risco de crédito).

Foram avaliados os que têm como índice de referência (benchmark) o CDI (índice que acompanha a taxa básica de juros e é padrão de rentabilidade da maioria dos fundos de renda fixa). O estudo analisou fundos com mais de sete anos e patrimônio superior a R$ 100 milhões - o que reduziu o universo a 119 fundos.

Os economistas avaliaram os desempenhos por períodos e o total de vezes em que superaram o benchmark. Dos dez aprovados, que correspondem a 8,4% dos analisados (de seis instituições não reveladas), sete são multimercados e três de renda fixa longo prazo (que aplicam em instrumentos como títulos públicos pré ou pós-fixados, CDBs e títulos de crédito).

- A conclusão é que poucos gestores adicionaram valor aos recursos dos clientes. Se os gestores não atingem o CDI, a culpa não está no índice - critica Duarte. - Isso preocupa porque revela a imaturidade da nossa indústria de fundos.

Hélio Vieira explica que o problema está também nas elevadas taxas de administração cobradas pelos gestores - que, em alguns grandes bancos, chegam a 5%. No Brasil, a rentabilidade informada ao investidor já vem com o desconto da tarifa.

Duarte vê poucas saídas para o pequeno investidor - que, por ter menos recursos para investir, acaba pagando as maiores taxas - além de pesquisar as taxas cobradas no mercado.

- Outra possibilidade é o investimento em títulos do Tesouro pela internet, o chamado Tesouro Direto. São os mesmos ativos em que os fundos aplicam, sem a necessidade de se pagar taxa de administração.