Título: Entrevista controversa gera críticas
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 19/07/2005, País, p. A3

A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva exibida na noite de domingo no programa Fantástico gerou críticas dos repórteres que acompanharam a viagem do presidente à França. Depois de a assessoria de comunicação do presidente ter criado um cordão de segurança para prevenir declarações polêmicas, jornalistas afirmam que pode ter havido ''armação''. Como antecipou o Jornal do Brasil ontem, há vários pontos de coincidência entre as declarações de Lula e as de Marcos Valério e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

A consonância do discurso de Lula e do PT também pôde ser vista a partir do artigo do ex-presidente da sigla José Genoino publicado sábado no jornal O Estado de S.Paulo. No texto, Genoino diz que a partir da vitória de Lula em 2002, ''dirigentes históricos (do PT) assumiram tarefas no governo, o partido se enfraqueceu em sua capacidade dirigente''. Na entrevista Lula explicou quase com as mesmas palavras: ''grande parte desses quadros (do PT) vieram para o governo e a direção (partidária) ficou muito fragilizada, enfraquecida''

As críticas à entrevista vieram também da imprensa. O blog Verbo Solto, do site Observatório da Imprensa, revelou ontem que a brasileira Melissa Monteiro, responsável pela entrevista com o presidente, não é repórter, mas dona da produtora de vídeo Melting Pot. Mesmo assim, ela teria passado a frente de alguns dos mais importantes jornalistas europeus e brasileiros.

Nem mesmo o diplomata brasileiro que cuida de comunicação na embaixada em Paris, Pedro Luiz, sabia da entrevista. As críticas surgiram porque ao longo de dois anos e meio no governo, Lula concedeu apenas uma entrevista coletiva e poucas exclusivas. Durante toda a viagem, o presidente criou um cordão de isolamento para evitar os jornalistas.

A entrevista teria sido concedida por volta das 12h da sexta-feira (horário de Paris), nos jardins da Residence Marigny, onde o presidente estava hospedado. Nesse mesmo horário, um grupo de jornalistas havia entrado no palácio para entrevistar o novo presidente do PT, Tarso Genro. A repórter Melissa Monteiro estava no grupo, mas, segundo o blog, carregava apenas um tripé e estava sem cinegrafista.

''Entra na cabeça de alguém que Lula (...) teria aceitado falar para uma produtora que venderia o material para uma emissora francesa que nem ela nem ele sabiam qual poderia ser?'', questiona o site.

Ontem, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto afirmou que a entrevista seria destinada à emissora estatal francesa TV 2, mas não sabia dizer por que ela teria sido transmitida pelo Fantástico. Outra explicação que correu no Planalto foi de que Lula desejava falar à nação e teria pensado inclusive em fazer um pronunciamento. No entanto, a forma de entrevista teria sido considerada melhor.