Título: Pesquisa pode antecipar o diagnóstico
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 19/07/2005, Saúde & Ciência, p. A12
Uma pesquisa realizada por cientista espanhóis, que durou cinco anos, detectou alterações metabólicas no cérebro de crianças hiperativas e pode colaborar para uma identificação precoce desse distúrbio. Os resultados do estudo - divulgado na semana passada pela revista americana Academic Radiology - podem permitir, que no futuro, se possa detectá-lo via exames.
- Atualmente, o diagnóstico é clínico, ou seja, não é feito através de testes neurológicos e sim através de perguntas ao paciente - informa o neuropediatra Milton Genes. - Mas a nova pesquisa é inicial e difere do relatado na literatura médica - ressalva.
Os pesquisadores Nicolás Fayed, chefe do Serviço de Neurorradiologia da clínica Quirón, e Pedro Modrego, neurologista do Hospital Miguel Servet, acompanharam 41 crianças de Zaragoza, com faixa etária entre três e nove anos. O grupo era composto de 21 autistas, oito indivíduos com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e 12 sem distúrbio algum, que funcionavam como um grupo de controle.
As crianças foram submetidas a uma espectroscopia por ressonância magnética. Através do exame, foram tiradas ''fotos bioquímicas do cérebro''. As imagens observadas nas crianças hiperativas mostravam aumento da presença do aminoácido N-acetilaspartato, encontrado no cérebro e não detectado em autistas.
Os cientistas concluíram que a alteração poderia estar relacionada a um aumento da energia celular dos neurônios ou de neurotransmissores (substâncias que atuam na transmissão de impulsos nervosos).
- É como se um menino hiperativo funcionasse em uma corrente elétrica de 220 volts, e não de 125 volts - explicou Fayed.
O resultado da pesquisa, se confirmado, vai ajudar a antecipar a identificação do problema. Um dos pontos mais problemáticos da TDAH, segundo a especialista em psicologia da infância da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Patricia Spada:
- É muito comum o diagnóstico errado ou demorado. Já atendi adultos que foram crianças hiperativas, mas na época não descobriram - comenta. - As pessoas, muitas vezes, confundem crianças sem limites ou muito agitadas com hiperativas.
O TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e acompanha o indivíduo por toda a vida. Os sintomas principais são desatenção, inquietude e impulsividade (Veja teste abaixo) .
Maria Cecília Caetano, de 35 anos, começou a desconfiar que seu filho tinha algum distúrbio quando o menino passou da classe de alfabetização para a primeira série do Ensino Fundamental. Renan, atualmente com dez anos, tinha dificuldade de aprendizado:
- Não parava quieto na cadeira, nem prestava atenção nas aulas. Eu era chamada freqüentemente ao colégio - conta.
Mas a pediatra e membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria faz uma ressalva:
- Uma coisa que tem me preocupado é o excesso de diagnóstico de hiperatividade. Para determinar que alguém tem o problema é preciso perceber que a criança está sendo prejudicada em, pelo menos, dois contextos, como por exemplo, em casa e na escola - explica. - Além disso, os sintomas têm de estar presentes por, no mínimo, seis meses. Senão pode ser, simplesmente, um momento de estresse.
É o caso de Renan, que além de problemas na escola, tem dificuldades para se concentrar durante o lazer. Não consegue, por exemplo, permanecer na sala do cinema durante toda a sessão.
- Os sintomas devem aparecer também antes dos sete anos - completa Genes.
- É uma doença crônica, tem que ser acompanhada, mas é completamente controlável - observa Spada.