Título: O lobby do luxo parte para o ataque
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/07/2005, Economia & Negócios, p. A19

O empresariado voltou à carga ontem contra as recentes operações do Ministério Público, Polícia Federal e Receita que levaram à prisão donos de companhias como Schincariol e Daslu por suspeita de sonegação de impostos. Apoiados por representantes da magistratura, sindicalistas e federação de bancos, empresários lançaram o Movimento Pela Legalidade, Contra o Arbítrio e a Corrupção. O manifesto foi assinado por 37 entidades representantes de empresários e deve ser entregue a autoridades.

A manifestação trouxe novamente à tona a discussão sobre ''excessos'' que podem ter sido cometidos pela PF ao acusar representantes das classes mais altas do país.

As críticas se concentram especialmente sobre a operação Narciso, que na semana passada levou à prisão de Eliana Tranchesi, dona da loja Daslu, seu irmão e sócio, Antonio Carlos Piva Albuquerque, e o contador Celso de Lima.

No fim da tarde, o Ministério da Justiça voltou a divulgar nota de apoio às ações do Ministério Público e da PF. Segundo o documento, a polícia trabalha ''sem proteger amigos ou perseguir inimigos''.

Mas essa não foi a tônica das declarações feitas ontem, quando a PF foi acusada de expor suspeitos à execração pública.

Apesar de admitir que as operações da PF são legais, João Antonio Garreta, presidente da Associação Paulista do Ministério Público, vê ''excesso de mídia''. Ele questionou o número de prisões temporárias realizadas.

- No caso da dona da Daslu, não era necessária prisão. Ela poderia ter sido apenas intimada - afirmou.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, procurou dissociar as recentes operações do manifesto e garantiu que as críticas não podem ser entendidas como temor do empresariado em relação a investigações.

- Existe um momento para as coisas acontecerem que não tem nada a ver com este ou aquele caso - afirmou.

Representantes de trabalhadores se alinharam com as reivindicações empresariais. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva comparou a Operação Narciso às ações da ditadura militar e disse que elas ocorrem por motivação política.

As ações da PF também foram comparadas à atuação do FBI depois do 11 de Setembro.

- Será que é melhor trocar a liberdade por segurança? - questionou o presidente da OAB de São Paulo, Luiz Flávio Borges D'Urso.

No entanto, nem todas as vozes foram de crítica. Apesar de assinar o documento, Emerson Kapaz, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, disse que não via exageros nas operações e que, ao contrário, elas deveriam ser fortalecidas.

- Para os empresários estava entendido que isso (as operações) era muito bom até que mexeu com um ou outro e incomodou - disse Kapaz.