Título: Depoimento irrita parlamentares da CPI
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/07/2005, País, p. A4
O depoimento do secretário-geral licenciado do PT, Sílvio Pereira, foi pouco esclarecedor na visão dos deputados e senadores que tiveram vários momentos de irritação na CPI dos Correios. Apesar de negar várias vezes conhecer operações financeiras irregulares do PT, parlamentares sabiam que na semana passada Marcos Valério afirmou à Procuradoria Geral da República, que ouviu de Delúbio Soares que tanto Sílvio Pereira quanto o ex-ministro José Dirceu tinham conhecimento dessa operação, da ordem de R$ 39 milhões. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) considerou ''estranho'' que a direção executiva do PT definisse prioridades políticas, soubesse dos acordos e das demandas financeiras do diretórios regionais, mas não tivesse conhecimento da origem do dinheiro e do tamanho da dívida do partido.
Segundo Silvio Pereira, as informações sobre o caixa dois da campanha, confessadas nesta semana pelo tesoureiro licenciado do partido, Delúbio Soares, não foram repassadas para a direção executiva do PT.
Na avaliação de o deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), o depoimento de Sílvio Pereira à comissão não trouxe nenhum fato novo que possa esclarecer as investigações sobre o esquema de corrupção nas estatais brasileiras. Entretanto, para a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), o depoimento de Sílvio Pereira evidencia a existência de um esquema de corrupção para financiar o projeto de poder dos atuais membros do governo federal.
- Está claro que Sílvio Pereira coordenava o loteamento de cargos no governo. É a promiscuidade entre partido e Estado - disse a deputada.
Para ela, é necessário que se saiba quem do Congresso participou do esquema. A deputada também considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa ser investigado.
Já o deputado Onyx Lorenzoni (PFL/RS) afirmou que o depoimento foi evasivo. Para ele, isso ocorreu porque Pereira obteve um hábeas-corpus.
- O hábeas-corpus dá a liberdade para mentir. Os depoentes vêm para cá (CPI dos Correios) blindados, tranqüilos, seguros de que não correm nenhum risco. Dessa maneira, a tendência deles é não colaborar - disse Lorenzoni.
Enquanto os petistas estavam desconfortáveis com a argüição, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) foi à forra no primeiro encontro com o dirigente partidário depois de sua expulsão do PT.
-É como se a fama conseguisse depravar a alma de um militante socialista -, disse ela, para quem esses petistas estão deslumbrados com ''carrões e mansões''.
O deputado Wellington Fagundes (PL-MT) afirmou que é ''óbvio'' que houve manipulação de recursos públicos pelos prestadores de serviços às estatais. Segundo ele, deve haver um combate às campanhas publicitárias nas eleições brasileiras. O deputado federal ressaltou que muitos veículos de comunicação chantageiam os governantes, mas não quis dar exemplos.