Título: PT poupa Delúbio Soares
Autor: Marcos Seabra
Fonte: Jornal do Brasil, 20/07/2005, País, p. A5

A direção nacional do PT decidiu ontem que o ex-tesoureiro Delúbio Soares, que confessou o uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais continua no partido. Seu afastamento foi rejeitado em votação entre 18 dos 21 integrantes da executiva petista: 11 aprovaram o afastamento de Soares. A proposta de suspensão provisória do ex-secretário de finanças foi feita por Joaquim Soriano, secretário de formação política, e Valter Pomar, 3º vice presidente do PT De acordo com o presidetne do partido, Tarso Genro, foi formada uma comissão de ética que irá apurar as denúncias contra integrantes do partido. Além de investigar a conduta dos petistas afastados Delúbio e Silvio Pereira, a comissão deverá apurar a utilização de qualquer recurso financeiro que tenha chegado ao PT. O presidente petista garante que o partido ''sabe reconhecer erros e adotar medidas para superá-los.''

O Campo Majoritário do PT trabalhou intensamente para rejeitar a proposta de suspensão do tesoureiro licenciado e poupou o nome dele de críticas na resolução aprovada no encontro de sua Executiva Nacional. Segundo participantes da reunião, realizada durante todo o dia de ontem em São Paulo, integrantes da tendência que domina o PT revelaram receio de que uma retaliação neste momento pudesse interferir no humor de Delúbio no depoimento à CPI dos Correios previsto para hoje.

O presidente do partido disse ainda que a gestão financeira do PT foi temerária e o que o partido não reconheceu os empréstimos feitos junto aos sistema bancário pelo ex-secretário de finanças, Delúbio Soares.

- Por enquanto reconhecemos aproximadamente R$ 39 milhões (R$ 38,996 milhões), total que ainda poderá crescer quando finalizarmos o levantamento das finanças do partido - afirmou ontem o presidente petista, o ainda ministro da Educação, Tarso Genro.

Ele explicou que o PT não pode reconhecer os empréstimos realizados por Soares ''porque eles não foram registrados e nem autorizados oficialmente'' pela direção petista.

Ricardo Berzoini, secretáriogeral do PT, salientou que os empréstimos efetuados por Delúbio Soares, com aval e garantias oferecidos por Marcos Valério, não foram contabilizados nas finanças do partido.

- A responsabilidade pelos empréstimos é de quem os contraiu - afirmou.

De acordo com o secretário de finanças petista, o deputado José Pimentel (CE), nenhum dos empréstimos viabilizados por Delúbio chegou às contas.

- Nenhum real foi depositado nas contas do partido.

Os três dirigentes petistas, Genro, Berzoini e Pimentel, foram unânimes em afirmar que os empréstimos foram feitos sem o conhecimento e a aprovação da ''instância superior do partido'', a executiva nacional.

- Estamos acusando a então direção do partido de gestão temerária das finanças, não poderíamos portanto reconhecê-las como legítimas - disseram.

De acordo com uma nota distribuída ontem pela direção petista, constam no total de dívidas reconhecidas aproximadamente R$ 13 milhões absorvidas junto aos bancos BMG, Rural e do Brasil.

- Não se trata exatamente de uma dívida, já que esses totais se referem à leasing bancário ou arrendamento mercantil que estão sendo renegociados - explicou Berzoini.

Desse total também fazem parte pouco mais de R$ 351 mil devidos à agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério. Com fornecedores diversos o partido reconheceu em dívidas perto de R$ 26 milhões.

Também ontem, algumas propostas foram feitas para tentar sanear as finanças petistas: desativação do diretório em Brasília, venda de veículos e redução da folha de pagamentos. Tarso Genro, que explicou que a discrepância de salários será corrigida.

- Estaremos impondo salário médio de R$ 7 mil para os dirigentes, com teto de R$ 12 mil.