Título: Lula dá Ministério das Cidades ao PP
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 20/07/2005, País, p. A7

A necessidade de fortalecer o governo no Congresso em meio à crise fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sucumbisse às pressões de Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara, para entregar ao PP o Ministério das Cidades - um dos mais cobiçados da Esplanada com ascendência direta sobre obras habitacionais em mais de 5 mil municípios e R$ 16 bilhões de orçamento. Em audiência ontem pela manhã com Lula no Palácio do Planalto, o atual ministro da pasta, Olívio Dutra, foi comunicado sobre a substituição por uma indicação do partido, o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento. O anúncio oficial, no entanto, foi adiado para amanhã depois de o PT ensaiar mais uma reação contra à perda do controle da pasta, considerada um pote de ouro por abrigar parte essencial do projeto eleitoral petista para as eleições do ano que vem.

- Não confirme ou comente nada até quinta (amanhã) pois o presidente ainda não oficializou sua saída - teria recomendado a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, a Olívio Dutra, em conversa por telefone ontem à tarde.

As chances de uma reviravolta são reduzidas de acordo com dois ministros palacianos que conversaram com Lula ontem. O adiamento seria uma maneira de o presidente aparar arestas no partido, que resiste bravamente em entregar a pasta. Ao endossar uma indicação de Severino para o encorpado ministério, o Planalto acredita amealhar o apoio incondicional do considerado até então ''aliado-problema'' do governo. A idéia inicial era contemplar o PP com a Previdência. Mas a oferta não foi bem digerida por Severino quando apresentada em reunião na noite de anteontem com Lula e o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner no Planalto, e o governo, encurralado pela crise do mensalão, teve de rever os planos.

- A Previdência não nos interessa - disse, taxativo.

Na cabeça do presidente, o Ministério das Cidades já tinha uma destinação: seria incorporado ao Ministério da Integração Nacional e entregue ao ministro Ciro Gomes, que assumiria a pasta batizada de Infra-Estrutura, na qualidade de super ministro. A Casa Civil, inclusive, já havia concluído um estudo que permitiria a fusão das duas pastas. Na última hora prevaleceu a opção mais conveniente ao governo na seara política sob o argumento de que ''não se pode prescindir de apoios importantes no Congresso com o imponderável da CPI pesando sobre o Planalto'', argumentou um auxiliar direto de Lula.

- Como transformar Ciro Gomes em super ministro se ele não tem voto no Congresso ? - acrescentou a fonte.

Fortes, atual braço direito do ministro do Desenvolvimento, Luis Fernando Furlan, não é filiado ao PP mas se aproximou do partido quando exerceu o cargo de secretário-executivo do ex-ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além do prestígio no PP, Fortes transita com desenvoltura entre a bancada ruralista da Câmara, com quem o presidente Lula pretende estreitar os laços.

Amanhã, o presidente também deve anunciar o novo ministro da Previdência. Permanece em alta nas bolsas de apostas palacianas o secretário do Tesouro, Joaquim Levy.

Ontem, em uma cerimônia fechada no gabinete de Lula marcou a posse do novo responsável pela coordenação política do governo. O ministro Jaques Wagner assumiu a nova pasta que une o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social à Articulação Política e Institucional em uma solenidade rápida, com a presença de apenas quatro ministros e sem acesso aos jornalistas. Em meio à temperatura elevada do ambiente político nesta semana, a cerimônia passou longe do clima de festividade da posse de Dilma Rousseff na Casa Civil, que deu partida à reforma ministerial desenhada como uma reação do governo à crise cada vez mais entranhada no Planalto. A discreta solenidade durou cerca de oito minutos, já contando os discursos do presidente Lula e do ex-ministro Aldo Rebelo, que transmitiu o cargo a Wagner