Título: Dólar baixo começa a fazer estragos
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/07/2005, Economia & Negócios, p. A17
Empresários brasileiros, principalmente os ligados ao comércio exterior, batem na tecla, desde o ano passado, de que o dólar segue em patamares baixos demais. Ontem, importantes setores exportadores divulgaram perdas decorrentes da sobrevalorização do real. Fabricantes de têxteis e eletroeletrônicos e produtores de leite apontavam retrocesso nos resultados do comércio exterior, enquanto a moeda americana fechava vendida a R$ 2,343, em alta de 0,21%, mas ainda no patamar mais baixo desde 2002. Entre os produtores industriais, a queda do dólar ainda traz o temor do aumento de importações, principalmente da China, forte competidora nos setores eletroeletrônicos e têxtil.
A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) divulgou dados relativos aos primeiros quatro meses do ano As exportações do setor totalizaram US$ 186,3 milhões, resultado 2% inferior aos US$ 190,1 milhões vendidos de janeiro a abril de 2004.
De acordo com a Eletros, a valorização do real já teria provocado cancelamento de contratos de exportação e de investimentos nas linhas de produção destinadas ao mercado externo. Como resultado, o Brasil deve deixar de vender para o exterior o equivalente a US$ 150 milhões.
¿ O risco é termos uma redução expressiva nos resultados da balança comercial, não só pela queda das exportações, mas também pelo incremento das importações ¿ disse o presidente da Eletros, Paulo Saab.
Outro setor a contabilizar desaceleração nas exportações é o têxtil. Em junho, as vendas externas do segmento atingiram US$ 144 milhões, queda de 6% na comparação com igual mês de 2004. O saldo comercial das indústrias têxteis brasileiras ficou em US$ 22,6 milhões, numa expressiva redução de 31,3%.
Apesar dos resultados de junho, a balança comercial do setor acumula superávit de US$ 213,2 milhões em 2005, 30% acima dos primeiros seis meses de 2004.
¿ A valorização cambial diminui a remuneração do exportador e dificulta tanto o ingresso de novas empresas no mercado externo quanto a expansão dos negócios de quem já vende para fora ¿ afirma Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
E não são apenas os industriais que sofrem com o dólar. Os produtores de leite vêem os preços no mercado interno despencar até 20% em plena entressafra.
Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), afirma que o culpado pela perda é o dólar, que retrai exportações e estimula importações, aumentando a oferta de leite no país.
Em 2004, pela primeira vez, o setor leiteiro registrou superávit comercial, de US$ 11,5 milhões, mas a perda de rentabilidade com a valorização do real desestimulou as exportações e o déficit entre janeiro e julho já chega a US$ 17,9 milhões.