Título: O maior credor de Valério
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 27/07/2005, País, p. A2

O banqueiro Daniel Dantas ¿ dono do Grupo Opportunity ¿ terá de dar explicações à CPI dos Correios. Os primeiros levantamentos mostram que as empresas de telefonia do banqueiro são os maiores credores privados de Marcos Valério Fernandes de Souza: teriam sido depositados mais de R$ 64,5 milhões, a maior parte em 2003 e 2004, nas contas da SMPB Publicidade, da Multiaction e da DNA Propaganda. Os depósitos foram feitos pelas empresas Telemig Celular, Amazônia Celular e Brasil Telecom. As três são controladas por um pool do qual fazem parte o Opportunity, o Citigroup e os fundos de pensão. Deste total, mais de R$ 40 milhões foram para a SMPB e Multiaction e R$ 24,5 milhões para a DNA Propaganda. Os parlamentares demonstraram surpresa com tanto dinheiro das empresas do banqueiro na conta de Marcos Valério.

¿ Os contratos são muito volumosos. Vamos exigir as notas fiscais, para ver se os serviços foram de fato prestados ¿ afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

Quem também estranhou tanto dinheiro transferido para as contas de Marcos Valério foi o vice-líder do PSDB na Câmara, deputado Eduardo Paes (RJ). O parlamentar sustenta que os depósitos das empresas de Dantas poderão esclarecer que a origem do dinheiro do esquema de Valério, que na CPI vem sendo chamado de ¿Valerioduto¿. Eduardo Paes afirma que ¿desde o começo a CPI vem prestando atenção nos depósitos elevadíssimos das empresas do doutor Daniel Dantas¿.

¿ A CPI não vai punir apenas os corruptos. A CPI vai punir os corruptores. É muito dinheiro depositado na conta de um sujeito que não entende de publicidade. Temos que investigar quem bancou tudo isso ¿ afirmou Eduardo Paes. Segundo as informações levantadas pela CPI até o início da noite de ontem, as transferências de Dantas para as contas de Valério na SMP&B e Multiaction foram maiores em 2003 e 2004. Foi justamente a partir de 2003 que o banqueiro começou a tentar uma aproximação com o governo do PT, para defender seus interesses junto aos fundos de pensão, que têm participação nas telefônicas.

Só em 2005, as transferências das empresas de Dantas para a SMPB e a Multiaction ultrapassariam R$ 13 milhões. Os parlamentares afirmam que as empresas do Grupo Opportunity têm contratos de publicidade com as empresas de Marcos Valério. Eduardo Paes, no entanto, lembra que as notas fiscais da Telemig Celular e da Amazônia Celular são as que mais aparecem entre documentos que foram parcialmente queimados em Minas Gerais, quando a Polícia Federal fez operação de busca na casa de um policial.

A senadora Ideli Salvati (PT-SC) diz que é necessário checar se os contratos dos grandes pagadores, entre eles Dantas, seriam compatíveis com os serviços prestados pelas empresas de Marcos Valério. Ideli afirmou que este levantamento poderá esclarecer se não houve a intenção de ¿esquentar dinheiro¿ através de repasses por eventuais serviços não prestados.

O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) acredita na existência de um grande esquema de lavagem de dinheiro, envolvendo desvio de recursos da corrupção. O deputado sustenta que as taxas que as agências de publicidade recebem de contratos governamentais é muito pequena, daí a explicação para o envolvimento de empresas privadas neste esquema.

Dinheiro sem explicação é o que não falta nas contas de Marcos Valério. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), foram computados R$ 11,8 milhões em movimentações financeiras da quebra de sigilo do Banco Rural sem as cópias dos documentos que permitam identificar os sacadores e depositantes. Há fichas de saques em que aparecem os furos dos grampos que foram retirados, onde constavam documentos anexos que permitiriam identificar os sacadores.

O banqueiro Daniel Dantas foi indiciado por formação de quadrilha pela Polícia Federal, pelo envolvimento com o esquema de espionagem feito pela Kroll Associates. Dantas é réu em ação na Justiça Federal de São Paulo. Até hoje, no entanto, a Justiça Federal não autorizou a análise do disco rígido do Opportunity, recolhido em busca e apreensão.