Título: Depoimento regado a agressões e lágrimas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 27/07/2005, País, p. A4

A instituição da família e a figura da dona-de-casa foram usadas como uma espécie de salvo-conduto pela pedagoga Renilda Santiago, para tentar se dissociar dos negócios do marido, Marcos Valério, e amenizar a pressão dos parlamentares na CPI dos Correios. Considerada por muitos, antes do depoimento, como ¿personagem frágil¿ ¿ ela chorou cinco vezes. Mas a imagem não se sustentou durante a sessão. A própria Renilda disse que se tornou ¿um pouco leoa¿ para defender sua família, principalmente os dois filhos, depois que o nome de Valério apareceu no escândalo do mensalão.

A mulher de Valério mostrou-se firme em alguns momentos. Sobre o fato de o patrimônio da família ter passado de R$ 3,8 milhões em 2002 para R$ 18 milhões em 2004, respondeu: ¿Dei procurações ao Marcos na confiança¿. Mas o desconhecimento sobre os negócios não convenceu. Quanto aos documentos da DNA queimados, reagiu: ¿Se quisessem esconder algo, teriam queimado os livros-caixa¿.

Congressistas da oposicão e governistas não se mostraram dispostos a acreditar que Renilda se mantinha distante dos negócios de seu marido ¿ nos quais ela aparece como sócia ¿ a ponto de não estranhar a origem da movimentação de R$ 4 milhões em sua conta particular, explicada candidamente como ¿divisão de lucros¿.

¿ Ela quase me enganou, mas uma mulher com essa ca pacidade de articulação, que demonstra a todo momento ter instrumentos para conhecer as atividades do marido, não pode simplesmente desconhecer a origem de tanto dinheiro ¿ sentenciou a deputada Denise Frossard (PPS-RJ).

Questionada sobre se sentia-se vítima ou cúmplice de seu marido, Renilda afirmou que se sente covarde por ser omissa e passiva quanto aos negócios de empresas das quais é sócia. Ela afirmou que está preparada para uma possível prisão de seu marido.

¿ Vou esperar para ver o que sobra das empresas para ver como vai ser a reconstrução da vida de nossa família ¿ disse. O depoimento, que durou cerca de oito horas, foi encerrado pelo presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), devido à quinta crise de choro da mulher de Valério. O deputado teve que fazer intervenções para conter insultos de alguns parlamentares a Renilda. O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), por exemplo, não mediu as palavras: ¿Diziam que atrás de um grande homem sempre tem uma grande mulher. Onde a senhora está com Marcos Valério? Na frente, atrás, do lado ¿ Pouco depois, Geraldo Thadeu (PPS-MG) leu mensagem enviada por sua mulher: ¿Apesar dos 13 cavalos que ela tem, seja cavalheiro com ela¿.