Título: Lobista também é alvo da CPI
Autor: Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 27/07/2005, País, p. A6

Um empresário que vinha operando nos bastidores do eixo Brasília-São Paulo-Rio vai ser alvo dos holofotes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito nos próximos dias. Fernando Moura, lobista acostumado a alardear sua amizade com o ex-ministro José Dirceu e com o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, é um dos nomes na mira dos senadores que apuram denúncias de corrupção. Os parlamentares querem rastrear suas movimentações financeiras porque detectaram indícios de participação no esquema de depósitos que alimentou o caixa dois petista. Moura emergiu pela primeira vez há poucas semanas quando foi apontado como responsável por azeitar o relacionamento entre a GDK Engenharia e a Petrobras. A empreiteira baiana prestava serviços à estatal desde 1994, mas viu seus contratos encolherem em 2003, primeiro ano do governo Lula. Partiu, então, para o contra-ataque e arregimentou um grupo de lobistas, liderado por Moura. A GDK - cujo vice-presidente César Oliveira foi o principal doador da campanha à Prefeitura de Salvador do hoje ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner - conseguiu, no ano seguinte, contratos de R$ 512 milhões. O principal deles, a reforma da plataforma petrolífera P-34, avaliado em R$ 240 milhões e alvo de investigação do Tribunal de Contas da União, que detectou indícios de superfaturamento, como revelou o JB semana passada.

O lobista era pródigo em conseguir encontros para empresários interessados em se aproximar do governo. Nos últimos dois anos, passou a dedicar mais tempo ao Rio, supostamente para angariar apoio a clientes na Petrobras - informação negada pelo ex-presidente da estatal José Eduardo Dutra. Vaidoso, Moura costumava exibir aos interlocutores recados deixados pelo ex-chefe da Casa Civil em seu telefone celular, para comprovar a amizade que nutriam desde os tempos da campanha de Dirceu a deputado federal.

Moura faz parte de uma lista de nomes na mira da CPI, por supostamente servirem de ligação entre fundos de pensão, estatais e o esquema de caixa dois montado por ex-dirigentes do PT e por Marcos Valério, dono das agências de publicidade DNA e SMPB. O JB revelou ontem três deles: a advogada Mônica Góes, o investidor Haroldo de Almeida Rego e o executivo Graciano dos Santos Neto.

Mônica, que presta serviços indiretamente à Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, negou qualquer participação em irregularidades. Almeida Rego, gestor de recursos e amigo do ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno, não retornou as ligações. Santos Neto, ex-presidente da Cobra (braço de tecnologia do BB, acusada de crescer no setor público ganhando contratos com dispensa de licitação, para depois terceirizá-los), não foi localizado.

Santos Neto tem sua trajetória ligada a empresas envolvidas em polêmicas. Antes da Cobra, foi diretor da Transactive, subsidiária da Gtech, pivô da primeira grande crise do governo Lula: a gravação em que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz pedia dinheiro ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.