Título: Valério corre risco de ser preso hoje
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/07/2005, País, p. A7
O dono das agências SMPB e DNA Publicidade, Marcos Valério Fernandes de Souza, pode ser preso hoje. A partir das 10h, CPI dos Correios decidirá em reunião administrativa, se pede ou não a prisão preventiva dele à Justiça. Segundo o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a medida será analisada pela área jurídica da comissão para evitar que a Justiça anule a decisão. Para os deputados, gravações telefônicas realizadas com autorização judicial comprovam a montagem de um esquema para destruir as provas capazes de comprometer o empresário. A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) entregou ontem ao relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), a transcrição das conversas entre o contador Marco Aurélio Prata, que presta serviço a Marcos Valério, e o irmão dele, o carcereiro Marco Túlio Prata, conhecido como Pratinha. Foi na casa de Pratinha que a polícia mineira apreendeu, no dia 14 de julho, documentos da DNA Propaganda, boa parte queimada. Na ocasião, o carcereiro foi preso, e foi encontrado com ele armas e munição. A gravação foi feita no dia 23 de junho e mostra uma articulação para tentar esconder documentos da Polícia Federal.
Ontem, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, acolheu o pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) para a realização de investigações nas empresas de Marcos Valério, apontado pelo deputado Roberto Jefferson como responsável pelo pagamento de mesadas a parlamentares.
O inquérito aberto anteriormente pela Polícia Federal para investigar o caso foi retido pelo juiz Jorge Macedo, da 4ª Vara da Justiça Federal em Minas Gerais. Depois, no dia 19, o juiz decidiu enviá-lo ao Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso as investigações policiais ficaram paralisadas.
Agora, as investigações vão recomeçar após julgamento favorável ao pedido do procurador-geral da República, Antônio Fernando Barros e Silva. De acordo com nota do STF, a solicitação do procurador foi feita após a constatação de que haveria envolvimento de pessoas que têm direito a foro privilegiado.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) informou que os assessores da CPI dos Correios estão analisando vários pacotes, a maioria ainda lacrados, de documentos enviados à comissão, a maior parte deles referentes às quebras de sigilo bancário das empresas de publicidade de Marcos Valério. A senadora disse acreditar que os documentos enviados pelo Banco Rural ¿podem estar incompletos¿. Ela afirmou também que os assessores tiveram problemas técnicos na análise dos documentos do Banco do Brasil, o que vai atrasar os trabalhos.
Ideli Salvatti destacou que aparecem nas quebras de sigilo centenas de pequenos pagamentos, o que ela suspeita serem ¿pagamentos pulverizados¿, dificultando a análise. A senadora informou que ainda não chegaram os documentos apreendidos pela Polícia Federal em Belo Horizonte, onde supostamente se encontra a lista de beneficiários dos saques realizados no Banco Rural. A documentação foi enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a CPI dos Correios espera recebê-los nos próximos dias.
Aumentaram as suspeitas entre membros da CPI dos Correios de que o Banco Rural pode ter fraudado documentos fornecidos à comissão. Além do atraso no envio à CPI da lista de quem irrigou dinheiro para as contas de Valério, o banco apresentou, em alguns casos, a relação de saques sem identificar o sacador.
¿ Está absolutamente claro que houve adulteração das informações do Banco Rural ¿ disse ontem o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), acrescentando que há extratos bancários em que é visível a adulteração da informação.
Na documentação, constam saídas de 11,8 milhões de reais, em grandes retiradas, sem figurar o beneficiário do dinheiro, quando a lista deveria trazer a cópia do cheque, a ordem de pagamento e a carteira de identidade do sacador.
Hoje, chegam à comissão os documentos em posse do Supremo Tribunal Federal (STF) com a lista de todos os sacadores e das pessoas autorizadas por Marcos Valério de Souza a retirar dinheiro de suas empresas.