Título: Azeredo nega esquema com Valério
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/07/2005, País, p. A7

O presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), negou ontem a notícia de que teria participado de um esquema de triangulação de verbas de campanha em 1998 com Marcos Valério Fernandes de Souza, e acusou o PT de dar um ¿abraço de afogado¿ na tentativa de afundar seu partido. Petistas celebraram o surgimento de uma notícia que liga o ¿esquema Marcos Valério¿ à oposição. Além disso, dá fôlego à tese governista de que todos fazem arrecadações ilegais.

¿ O que essa notícia demonstra é que esse padrão de comportamento das empresas de Marcos Valério ocorria pelo menos desde 1998 com a campanha da coligação PSDB-PFL ao governo de Minas Gerais ¿ disse o líder do governo Aloizio Mercadante. Azeredo discorda: ¿ Fico indignado. São coisas totalmente diferentes. Isso foi há sete anos.

Mercadante criticou os tucanos por não terem oferecido antes informações para a CPI sobre o esquema para acelerar as investigações. Isentou Azeredo de envolvimento pessoal e ironizou a defesa do PSDB de que o caso é antigo:

¿ Corrupção não é como pote de iogurte, que tem prazo de validade.

Azeredo chegou às pressas ao Senado, no início da tarde de ontem, para falar na tribuna e se colocou à disposição para esclarecimentos na CPI dos Correios, onde foi citado por petistas durante o dia. Negou que a empresa DNA, de Marcos Valério, tenha contraído um empréstimo no Banco Rural em 1998 de R$ 11,7 milhões. No mesmo ano, sua outra empresa, a SMPB repassou mais de R$ 1,6 milhão a 70 políticos da coligação de Azeredo.

¿ O padrão parece ser muito semelhante ¿ disse Mercadante, comparando o caso com a crise atual.

Segundo Azeredo, sua coordenação de campanha não tem nada a ver com o empréstimo que o Banco Rural fez à DNA . Além disso, as contas aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral:

¿ Se alguém tentar dar um abraço de afogado, o PSDB não aceita.

O líder tucano, senador Arthur Virgílio (AM), fez duras críticas ao PT, que segundo ele ¿quer companhia para tentar se salvar do lamaçal em que chafurda o governo Lula¿.

Mercadante e Virgílio defenderam ontem o afastamento do deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) da relatoria da CPI do Mensalão pela ligação com o caso ¿ o deputado e seu filho, Paulo, teriam recebido verbas da SMPB, empresa de Valério. ¿ Ele fica prejudicado pelo fato de ter recebido recursos de campanha nesse episódio. Vai refletir sobre isso e vai se sentir impedido, mas não há nada que o desabone ¿ afirmou o petista. Um dia após a denúncia envolvendo Eduardo Azeredo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) fez declarações moderadas sobre a crise do mensalão. Considerou ¿totalmente precipitado¿ falar em um possível impeachment do presidente Lula, e defendeu seu governo. Em entrevista coletiva realizada ontem pela manhã em São Paulo, durante a abertura do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, FH cobrou a apuração das denúncias de irregularidade investigadas pela CPI dos Correios, mas afirmou que é preciso ¿separar o joio do trigo¿, inclusive dentro do PT, ¿porque não são todos que fizeram safadeza¿.

Ao ser questionado sobre um suposto esquema, semelhante ao mensalão, que teria ocorrido em 1998 durante a gestão do então governador mineiro Eduardo Azeredo, FH tentou relativizar o caso.

¿ É preciso analisar e depois discriminar. Isso é grave? Qual o grau de gravidade? Maior, menor? Está comprometendo sistemicamente? Tem responsabilidade política? É um fato que eu não conheço. Mas, se for fato, vamos examinar e colocar no contexto de outros fatos.

Fernando Henrique considera que a ampliação das investigações para o período que compreende seu governo só tirariam o foco das denúncias.

¿ Esses são fatos passados há dez anos. Não houve nenhuma acusação de interferência nem minha nem dos meus ministros. Pode apurar à vontade, mas não tire o foco. O próprio PT reconheceu, tanto que caiu toda a sua direção.

FH negou um possível acordo firmado entre ele e o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) para blindar Lula, numa tentativa de evitar que o vice-presidente José Alencar (PL) assumisse a Presidência.

¿ Não houve nenhuma combinação. Até porque, nunca, nenhum de nós acusou o presidente Lula de nada. Não temos porque especular o que vai acontecer com o vice-presidente.

O ex-presidente creditou os bons números econômicos do governo Lula ao ¿bom senso¿ do presidente em seguir a política econômica praticada em sua gestão, mas ressaltou que não é possível prever quanto tempo a economia resistirá à crise. Em sua avaliação, o cenário atual dificultará a reeleição de Lula.

O ex-presidente não considera que exista um esquema organizado de compra de parlamentares.

¿ Essa tese de que é generalizado é horrível. Não tem caixa dois coisa nenhuma. (F.P.)