Título: Mensalão alimenta ONGs no DF
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 27/07/2005, Brasília, p. A5
O empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, transferiu dinheiro para três instituições de Brasília: o Instituto dos Magistrados do Distrito Federal (Imag), a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer) e a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong). As transferências - que somam R$ 802 mil - foram descobertas com a quebra do sigilo bancário de Valério pela CPMI dos Correios. O dinheiro destinado às entidades saiu das contas das empresas DNA Propagandas e SMPB Comunicações. Para parlamentares da CPMI dos Correios, as transações financeiras entre a empresa de Valério e órgãos ligados ao judiciário podem indicar um esquema de propina que vai além do Congresso Nacional.
- É preocupante o envolvimento de Valério também no Judiciário. Isso indica que os tentáculos desse esquema alcançam muito mais do que imaginávamos. Temos que apurar qualquer irregularidade - afirmou o deputado federal Alberto Fraga (PFL-DF), integrante da comissão.
O presidente do Imag, desembargador Valter Ferreira Xavier afirmou que as transferências foram feitas para pagar inserções publicitárias na revista do instituto, O Magistrado. O Imag recebeu R$ 177 mil das empresas de Valério de 2001 a março deste ano. Ano passado, Valter Xavier pediu afastamento do TJDF antes da conclusão do processo disciplinar que apurava a sua suposta participação em um esquema de venda de sentenças,
- As empresas utilizam agências publicitárias para fazer pedidos de inserção e pagar pela veiculação de anúncios. É um procedimento normal que foi usado por anunciantes da revista - explicou o desembargador, que apresentou sete notas fiscais comprovando o pagamento de inserções pela SMPB.
Os anúncios foram feitos pelo GDF e pela empresa Irmãos Rodovalho, mantenedora do Almeda Shopping.
O orta-voz do GDF, Paulo Fona, afirmou que a SMPB é uma das quatro empresas de publicidade que atendem o governo e, por isso, faz os pagamentos de inserções. Segundo ele, o governo não pretende suspender o contrato com a empresa de Valério.
Em nota, a presidente da Ajufer, Solange Salgado, afirmou que a associação nunca manteve contato com a DNA Propagandas ou com nenhum dos integrantes da empresa. Os R$ 70 mil transferidos para a Ajufer seriam referentes a um patrocínio dado à Associação pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Segundo a nota, a Ajufer teria pedido patrocínio aos Correios para encontros de estudos em 2003 e 2004. A associação teria recebido com ''imensa estranheza, estarrecimento, incompreensão, indignação o fato de os Correios, por conta própria, ter delegado a uma empresa de publicidade efetuar depósito de valor de patrocínio legalmente solicitado e deferido''.
Os R$ 400 mil transferidos para a Abong pelas empresas de Marcos Valério também teriam vindo dos Correios. Segundo nota divulgada pelo diretor da Abong, José Durão, o dinheiro foi dado pelos Correios, via SMPB, como patrocínio para a montagem do Fórum Social Mundial, organizado pela Abong, em Porto Alegre, em janeiro deste ano.
Os Correios informaram, também em nota, que a empresa pagou cerca de R$ 2,3 milhões através da SMPB relativos a ações promocionais. Segundo a nota, os pagamentos foram feitos dessa forma porque o Decreto 4.799, de 4 de agosto de 2003 determina intermediação obrigatória de agência de propaganda em toda a ação publicitária feita pelo Poder Executivo.