Título: Governo e oposição agem com cautela
Autor: Sérgio Pardellas e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 28/07/2005, País, p. A5

A CPI dos Correios baixou a bola. O surgimento de nomes da oposição na lista de saques de recursos das empresas de Marcos Valério de Souza no Banco Rural fez com que tucanos e pefelistas diminuíssem a intensidade dos ataques contra o PT no Congresso. A insegurança sobre o tamanho da crise e o rumo que as coisas vão tomar daqui para frente fez com que governistas e oposicionistas começassem a conversar com mais cautela. Até a votação do requerimento de Dirceu para depor foi adiado para a semana que vem. - O surgimento do Eduardo Azeredo (PSDB-MG) não fez com que os tucanos baixassem as penas? O aparecimento do Opportunitty como fonte de recursos de Valério não levou o PFL baiano a baixar o tom? - provocou um líder governista.

Preocupada com o cenário, a cúpula pefelista chamou ontem o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), para uma conversa no gabinete do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Acertaram que Azeredo vai à Comissão na semana que vem, na qualidade de senador, dar as explicações necessárias aos integrantes da CPI. Mas a movimentação das peças no tabuleiro de xadrez político acabou beneficiando o ex-chefe da Casa Civil.

- É claro que eles estão cautelosos. Se quisessem votar o Dirceu hoje (ontem), romperíamos o acordo e chamaríamos o Azeredo - disse um petista.

A boa vontade do PFL pára por aí, num sinal de que o surgimento de novos nomes pode esfacelar a aliança oposicionista.

- Não vamos dar a nossa pele para salvar o PSDB - disse um pefelista.

O esquema de repasses de Marcos Valério para os partidos começou em 1998, no PSDB de Minas Gerais. No seu depoimento à Procuradoria Geral da República, no dia 15, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, já tinha dado seu recado. Ele contou ao procurador-geral Antonio Fernando Barros que procurou Marcos Valério devido à experiência do empresário na captação de recursos para campanhas eleitorais, ''como fizera na de 1998, na eleição do então governador Eduardo Azeredo e do deputado Aécio Neves''.

Os parlamentares do PT sentiram a mudança de tratamento ao partido na CPI dos Correios. A senadora Ideli Salvatti credita a redução do fogo cruzado contra o PT ao surgimento do banqueiro Daniel Dantas como o grande suspeito de ser o financiador do mensalão. Para Ideli, o PSDB não tem interesse em reabrir a ferida das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.

- Todas estas sujeiras nasceram no governo de Fernando Henrique. Se tivesse tido a CPI da privatização, tudo isso teria sido eliminado - disse Ideli.

Ideli foi procurada por um atuante deputado do PFL, que solicitou que a senadora baixasse a bola com os ataques ao partido. A senadora interpretou que o PFL não quer entrar a fundo na investigação do vice-governador de Minas, Clésio Andrade, que foi do partido.