Título: Chuva recorde castiga o país
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/07/2005, Internacional, p. A8

A pior chuva a atingir a Índia em 60 anos - desde que começaram os registros pluviométricos - causou enchentes e deslizamentos que mataram pelo menos 140 pessoas no Oeste do país. Mas o número de vítimas pode dobrar devido ao soterramento completo de uma aldeia pela lama. A capital financeira, Bombaim (atual Mumbai), está inacessível por estradas, ferrovias e por rotas aéreas. Dez mil indianos foram retirados de suas casas.

Equipes de resgate começaram a escavar os escombros na aldeia de Juigaon (150 km ao Sul de Bombaim), em busca de sobreviventes e corpos. Uma avalanche de lama destruiu mais de 30 casas na noite de terça-feira e, de acordo com as autoridades, 150 pessoas estão sob os destroços.

- É muito provável que um número grande de pessoas tenha morrido. Mas também esperamos encontrar sobreviventes - afirmou Krishna Vatsa, secretário de Operações de Ajuda do estado de Maharashtra, o mais castigado pela torrente.

Segundo Vatsa, a situação é bastante grave em toda a região ao Sul de Bombaim, mas a chuva está parando e a água, escoando. No entanto, o mau tempo dos últimos dias prejudicou as comunicações das equipes de resgate, atrapalhando o trabalho. Mesmo assim, o Exército lançou pacotes de alimentos para pessoas ilhadas.

- A situação é grave demais. Não temos como alcançar os moradores dos distritos - lamentou o ministro-chefe do de Maharashtra, Vilasrao Deshmukh.

Em Bombaim, a chuva e os ventos devem durar até amanhã, avaliam meteorologistas. Na terça-feira, a zona Norte metropolitana registrou precipitação de 94 centímetros, recorde desde 1974.

A cidade, onde funciona a importante indústria cinematográfica indiana, continuava ontem sem eletricidade e telefones. Escolas foram fechadas e carros, ônibus e trens não circularam. O mercado financeiro parou, vôos foram desviados ou cancelados, e o governo decretou feriado até hoje, aconselhando as pessoas a ficarem de casa. Cerca de 40 pessoas morreram em Bombaim, incluindo sete crianças atingidas por um deslizamento no sofisticado bairro de Andheri.

Alex Anthony, 44 anos, contou ter levado 14 horas para chegar à sua casa, na madrugada de ontem, depois de caminhar sobre trilhos, às vezes com água até o peito.

- Era como um rio em frente à estação. Os bombeiros amarraram cordas aos postes e uma fila de pessoas se agarrou para atravessar - lembra.

- Nunca vi chuva como essa. Meus filhos tiveram que caminhar por cinco horas e meia para chegar em casa, de madrugada - relatou o aposentado Shanti Narayan.

No hotel Taj Mahal, à beira-mar, a recepção estava cheia de bagagens e turistas frustrados, sem saber quando poderiam partir.

A destruição mostra como é precária e sobrecarregada a infra-estrutura de Bombaim. Autoridades recentemente começaram a erradicar favelas como parte de um ambicioso plano de US$ 6 bilhões para transformar a cidade em uma nova Xangai.

A Índia está atualmente na temporada de monções, que vai de junho a setembro, e todo ano mata milhares de pessoas. Nos últimos dois meses, pelo menos 230 indianos morreram vítimas das enchentes, sem contar os óbitos desta semana. Segundo o ministro do Interior, Shivraj Patil, 5,6 milhões de habitantes de mais de 16 mil povoados e cidades foram atingidos pelas inundações, que destruíram casas, estradas, trilhos e pontes. As chuvas também mataram 76 mil animais e alagaram mais de 700 mil hectares de plantações.