Título: Um só remédio para todas as doenças
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 28/07/2005, Rio, p. A13

A crise na rede pública de saúde do Rio, que se arrasta desde o início do ano e já motivou a decretação de estado de calamidade pública nos hospitais do município, será discutida, a partir de segunda-feira, por mais uma comissão. Na segunda visita à cidade em menos de uma semana, o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, que assumiu no último dia 11, anunciou a criação da comissão metropolitana, que deve reunir representantes dos governos federal, municipal e estadual. A primeira medida do grupo, segundo Saraiva Felipe, será avaliar a situação de cada hospital e a qualidade dos serviços prestados. O anúncio da criação da comissão foi feito durante a posse do novo diretor do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o médico Luiz Antônio Santini, na manhã de ontem.

- A crise já evoluiu no aspecto mais importante. Conseguimos firmar um pacto político das três esferas de governo - afirmou Saraiva Felipe.

De acordo com o ministro, esta foi uma providência emergencial para evitar a piora dos hospitais do município e do estado.

- Já estamos regularizando as situações de pendência com o município e com o estado de tal forma que não haja mais falta de profissionais de saúde dos hospitais e problemas de pagamentos dos funcionários - concluiu o ministro.

Ainda na gestão do ex-ministro da Saúde Humberto Costa, o governo federal decidiu assumir definitivamente a gestão dos hospitais do Andaraí, da Lagoa, Cardoso Fontes e de Ipanema. O ministro disse que serão feitos investimentos em equipamentos e recursos humanos nas quatro unidades.

O secretário municipal Ronaldo Cezar Coelho acrescentou que a comissão era um pedido antigo da secretaria. Segundo ele, o grupo se reunirá segunda-feira pela manhã na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde serão debatidos todos os problemas da rede.

- Somente com a reunião do ministério, estado e município em encontros periódicos aqui no Rio poderemos chegar a um acordo - afirmou o secretário.

A proposta de implementar ações integradas entre as esferas federal, estadual e municipal já tinha sido discutida na primeira reunião entre os representantes com o novo ministro, ocorrida no último sábado.

A ampliação da central de regulação de leitos e da rede de atenção básica à saúde, com o aumento de unidades do Programa da Saúde da Família (PSF), foi um dos principais assuntos da reunião. Também foi discutido o financiamento de medicamentos excepcionais em falta na rede estadual, como os usados pelos portadores de hepatite e do vírus da AIDS.

O secretário estadual de saúde, Gilson Cantarino, acredita que o investimento feito pelo Ministério da Saúde ainda é insuficiente para a demanda do estado. Segundo ele, o Ministério da Saúde repassa apenas 30% do total das despesas, enquanto os 70% restantes ficam a cargo dos estados.

Sobre a nova comissão, o secretário listou as propostas que serão feitas ao governo federal logo na segunda-feira. De acordo com ele, a central de regulação de leitos, que atualmente só controla os municipais, deve administrar também os leitos dos hospitais estaduais e federais.

- Nenhum hospital público ou privado controlado pelo SUS pode ficar fora da central de regulação, para que haja transparência na ocupação dos leitos - alertou Gilson Cantarino.

Além disso, o secretário afirmou que será cobrada do ministério uma atenção especial em relação aos problemas de dengue no estado, antes mesmo que chegue o verão, período mais grave de infestação.

- Não estou satisfeito com a cobertura municipal de tratamento da doença - disse.

O deputado estadual Paulo Pinheiro (PT), presidente da Comissão de Saúde da Alerj, mostrou-se surpreso com o estabelecimento de uma nova comissão para debater os mesmos problemas. Segundo o deputado, este procedimento já foi realizado diversas vezes ao longo da crise.

- Acho estranho que desta vez não tenham sido incluídos parlamentares nas discussões. Afinal, acompanhamos todo o processo de perto, fizemos diversos relatórios apontando todos os problemas da rede de saúde - observou Paulo Pinheiro.