Título: Presidente busca fatos positivos
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, País, p. A3

Pela manhã, o discurso aberto com a história de Francisco Cavalcante, faxineiro do Aeroporto de Brasília que ficou famoso ao devolver um pacote com US$ 10 mil encontrados no banheiro do terminal. À tarde, o relançamento da Bolsa-Atleta, voltada para o financiamento de esportistas sem patrocínio. Em meio à crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem apostado no silêncio sobre os escândalos políticos e na busca de fatos positivos em suas aparições públicas como forma de se manter distante da sombra que se abate sobre o governo e PT.

Da porta de seu gabinete para fora, o presidente adotou a estratégia de se manter distante da crise. Se na última semana, Lula passou longe do contato com o público e com as câmeras, agora, procura o apoio popular, fator que permanece forte nas recentes pesquisas de opinião, como estratégia para ajudar a blindar sua imagem. Nos últimos dias, metalúrgicos, cegonheiros, petroleiros e operários formaram a bem disposta audiência procurada.

Ontem, foi a vez de os operários do aeroporto brasiliense ouvirem o presidente discorrer sobre uma pauta que abrangeu desde os investimentos em infra-estrutura até o aumento no volume de recursos destinados à agricultura familiar. No leque de fatos positivos estava o exemplo de Francisco Cavalcante, cumprimentado por Lula diante dos trabalhadores da obra, e que já foi usado em campanha publicitária do governo. Lula aproveitou ainda para usar a história do faxineiro como uma das raras referências do à crise política:

- Nós estamos percebendo, com todas as denúncias que acontecem no Brasil, que se tivéssemos 180 milhões de Franciscos, certamente o dinheiro do Brasil daria para a gente fazer muito mais coisas para o povo pobre deste país, do que se as pessoas levarem dinheiro - disse Lula.

Na falta de agenda positiva, vale até reciclar velhos assuntos. Como levar atletas de destaque ao Palácio do Planalto para o relançamento do Bolsa-Atleta, instituído há mais de um ano. O programa, operado pela Caixa Econômica Federal, prevê recursos da ordem de R$ 5 milhões para o financiamento de atletas de alto rendimento que não consigam patrocínio privado. Ontem, foi lançado pela segunda vez, em solenidade no Palácio, com a entrega simbólica dos primeiros 300 cartões magnéticos que permitirão aos beneficiados sacar o subsídio.

Durante a visita ao canteiro da ampliação da nova pista do Aeroporto de Brasília, Lula anunciou que o novo presidente da Infraero - cargo até então de Carlos Wilson - será Tércio Ivan de Barros, que atualmente está à frente da superintendência de Planejamento e Gestão da empresa. Ele é investigado pela Polícia Federal, suspeito de cometer irregularidades em licitações quando era superintendente regional da estatal em São Paulo, em 2002. A denúncia partiu da Associação dos Concessionários dos Aeroportos do Estado de São Paulo.

Enquanto isso, o jornal britânico Financial Times retomou duras críticas ao governo Lula. No editorial intitulado 'O desafio de Lula', o jornal afirma que o governo brasileiro está uma ''bagunça'' e que o país atravessa sua pior crise desde o impeachment de Fernando Collor de Mello.

Segundo o jornal, a atual crise demonstra a urgência de uma reforma política.

''Um forte desempenho comercial e os altos preços das mercadorias, combinados com elevadas taxas de juros, significam que a moeda brasileira - o real - está firme. A inflação caiu. Mas há alguns sinais de que o panorama econômico está se deteriorando. Investidores locais já adiam decisões quanto a investimentos''.