Título: Apesar da crise, Lula planeja reeleição
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, País, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não acredita na queda vertiginosa de sua popularidade a ponto de comprometer o projeto de reeleição, segundo revelou a auxiliares. A avaliação feita no Planalto é de que a crise terá no máximo mais dois meses de duração, com bombardeios centrados no PT. Lula está convencido: a crise não chegará até ele. E ancorado nesse raciocínio, tem descartado, em conversas reservadas com assessores e amigos, qualquer hipótese de renúncia ou um eventual pedido de impeachment.

- O presidente Lula acha que pode se reeleger - contou ontem um importante auxiliar do presidente.

Pela primeira vez, depois da eclosão da crise do mensalão, Lula deixou vazar que está avaliando o seu potencial para as eleições do próximo ano. A assessores, Lula também falou a respeito do suposto empréstimo de R$ 29.436,26 concedido a ele pelo PT. Alega que o partido sempre pagou suas despesas com viagens. O dinheiro teria sido contabilizado, equivocadamente, como empréstimo.

- Fiz gastos na época que representava o PT. Lançaram de maneira errada como empréstimo. Nunca contraí empréstimo. Houve um erro do contador e é ele que deve se explicar. Não tenho medo de que haja algo que me atinja - afirmou Lula, como confidenciou ministro do núcleo político do governo.

Até então, a assessoria do Planalto se limitava a dizer que a Presidência da República não tinha conhecimento dessas informações e recomendava procurá-las no Partido dos Trabalhadores''.

Sobre as supostas ameaças do dono de agências de publicidade Marcos Valério, dirigidas diretamente a ele, o presidente recomendou tranquilidade. Disse ''não acreditar'' na história de que Valério teria custeado despesas de sua mulher, Marisa. Em sua avaliação, a munição acabou.

- Os documentos (de Valério) já estão no Supremo - observou.

Em conversas ontem no Palácio do Planalto, o presidente Lula afirmou a auxiliares que sua relação com o deputado e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, não anda estremecida, ao contrário do que os jornais publicaram na última semana. Ele e Dirceu, assegurou, refizeram as pontes e têm conversado com certa regularidade. Lula classificou de ''infundadas'' as especulações de que o Planalto e o PT pensam em sacrificar o ex-ministro, expulsando-o do partido para blindar o mandato e a candidatura à reeleição.

- Nenhum deputado vai ser expulso do PT antes que apareça alguma prova contundente ou até que seja indiciado. Não existe isso de expulsão - afirmou um auxiliar que esteve com Lula ontem.

A maior preocupação do presidente se concentra no PT, de acordo com ministros que conversaram com ele nos últimos dias. Lula acha que as denúncias investigadas pela CPI dos Correios terão um impacto muito grande no partido, que cresceu pregando a ética.

A avaliação no Planalto é de que o esquema de Marcos Valério deve derrubar vários parlamentares, incluindo representantes do PT. Acredita-se que Valério fez operação inversa da lavagem de dinheiro. Teria ''esfriado'' o dinheiro, obtido de forma lícita e criando esquema ilícito de repasses.

Algumas autoridades do governo comparam o esquema de Valério ao de Paulo César Farias, o PC Farias, ex-tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor. Observam que o esquema de Valério centrava-se particularmente em Minas Gerais até 2002, quando as operações se ''nacionalizaram''. Passou a operar em outros Estados e com variadas siglas partidárias. As informações recebidas pelo governo também dão conta da existência de contratos de gaveta do PT com Valério, ou seja, acordos não registrados.

Sobre o assunto, Lula nutre um sentimento que se resume à ira. Raiva de não saber da existência de um esquema de pagamento de campanhas com caixa 2 e de jamais ter ouvido falar de Valério.

- Lula se diz magoado e traído. Considera um absurdo o que foi feito. Não acredita na existência do mensalão. Avalia, contudo, que aconteceram coisas imperdoáveis - revela um assessor.