Título: Fundos e estatais na mira da CPI
Autor: Marcelo Kischinhevsky, Mariana Carneiro e Hugo Mar
Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, País, p. A5

Fundos de pensão e empresas ligadas ao governo entraram na mira de integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada para apurar denúncias de corrupção nos Correios. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) pediu a investigação de uma lista de nomes que teriam movimentado grandes somas, por meio dos bancos Rural e BMG, instituições que concentravam os pagamentos do esquema de caixa dois montado por ex-dirigentes do PT. A advogada Mônica Góes - que presta serviços à Angra Partners, consultoria que assessora a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil -, o ex-presidente da Cobra (empresa de tecnologia do BB) Graciano Santos Neto e o investidor Haroldo de Almeida Rego estão entre os citados.

Mônica trabalha indiretamente para a Previ, atuando em disputas envolvendo o fundo e empresas de telefonia. A Angra Partners costurou o acordo bilionário com o Citigroup, pelo qual o banco americano venderia sua participação na Brasil Telecom (BrT). A maior briga é com o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, que alimentou a rede de depósitos bancários suspeitos por meio de suas telefônicas Telemig Celular e Amazônia Celular, numa tentativa de angariar apoio do governo. Dantas é sócio de Previ, Citi e Telecom Itália na BrT, palco de uma das maiores disputas empresariais da história do país.

Santos Neto, por sua vez, dirigiu a Cobra, empresa controlada pelo BB e alavancada durante o governo Lula, triplicando seu faturamento. O crescimento teve sustentação na série de contratos fechados com órgãos do próprio governo mediante dispensa de licitação. A justificativa é sempre a mesma: trata-se de uma estatal. A explicação, contudo, é contestada por especialistas do setor, já que seu capital é misto - ou seja, não é uma companhia integralmente controlada pelo Banco do Brasil.

A disputa mais rumorosa envolvendo a Cobra foi o contrato com a Dataprev, responsável pelo processamento da folha de benefícios do INSS. No ano passado, o braço de tecnologia do BB ganhou contrato sem licitação para assumir os serviços prestados há duas décadas pela Unisys. Em seguida, sem condições técnicas, subcontratou a própria multinacional - prática repetida em outras empresas.

Mês passado, o araponga José Fortuna Neves, em depoimento à CPI, afirmou que trabalhava infiltrado nos Correios para investigar contratos da Unisys com órgãos do governo que poderiam ser retirados das mãos da multinacional. A ordem para a espionagem teria partido da Casa Civil.

Oficialmente, a Fazenda fez trocas de rotina na diretoria da Cobra nos últimos meses. Na prática, o ministro Antonio Palocci estaria preocupado com o resultado das investigações. As mudanças teriam como objetivo evitar o contágio do governo pelas denúncias.

Já Almeida Rego seria ligado ao ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno e teria indicado dirigentes dos fundos de pensão Nucleos (estatais do setor nuclear) e Prece (Cedae). As duas instituições amargam resultados abaixo da média e suas diretorias são alvos de queixas dos associados.

Pedro Paulo Campos, um dos sócios da Angra Partners, confirma que Mônica Góes é uma das advogadas que representam o Investidores Intitucionais - grupo de 11 cotistas, entre os quais BNDESPar, Previ e Telos - na briga pelo controle de empresas de telecomunicações.

Ao JB, a advogada disse desconhecer por que seu nome foi incluído no rol de suspeitos.

- Não trabalho para a Previ, não sou do PT e não conheço o Silvio Pereira (ex-secretário-geral do partido). Por isso não sei por que meu nome aparece nesse escândalo - reagiu. - Acredito que seja porque estou participando da guerra judicial que contraria os interesses do banqueiro Daniel Dantas.

Mônica negou a informação de que teria recebido R$ 2 milhões por serviços prestados à Previ e rebateu as suspeitas sobre sua atuação levantadas pelo ex-diretor do BB Henrique Pizzolato, publicadas domingo pela Folha de S.Paulo.

- Trabalho para o FIA (Investidores Institucionais) desde maio. Desconheço o motivo pelo qual ele me mencionou.