Título: Advogada famosa assume caso
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, Internacional, p. A7

O escritório da advogada Gareth Peirce, uma das mais notórias defensoras dos direitos civis da Grã-Bretanha, está acompanhando o caso do brasileiro Jean Charles de Menezes e poderá assumir sua defesa. Os quatro primos do eletricista morto que vivem em Londres se reuniram ontem com duas assistentes de Peirce no hotel onde foram hospedados pela polícia. A advogada Marcia Willes-Stewart confirmou que ambas vão acompanhar o desenrolar do inquérito oficial, aberto ontem. A partir das conclusões é que avaliarão com os familiares novos passos.

Segundo a família de Menezes, a iniciativa partiu de Peirce.

Para Alex Pereira, um dos primos de Jean, ''alguém precisa pagar por sua morte''. A maior preocupação agora, conta, é evitar que escondam a verdade.

- Pedimos ao chanceler Celso Amorim que o Brasil mande um médico para acompanhar a autópsia. Se deixarem só médicos britânicos, eles vão encobrir as responsabilidades - afirma.

Alex reclamou ainda da falta de acesso às imagens dos circuitos internos de TV da estação de metrô onde o brasileiro foi morto.

Em seus mais de 30 anos de carreira, Gareth Peirce se notabilizou pelo envolvimento em casos polêmicos de violação dos direitos civis. O mais famoso, em que defendeu o irlandês Gerry Conlon e seu pai, Giuseppe Conlon, condenados injustamente por um atentado do Exército Republicano Irlandês (IRA) num pub de Guildford, nos arredores de Londres, em 1974, virou o filme ''Em Nome do Pai'', no qual seu papel foi interpretado pela atriz Emma Thompson.

Um caso semelhante no mesmo ano, que ficou conhecido como ''Birmingham Six'', aumentou a fama de Peirce: depois de cumprir 16 anos de cadeia por dois atentados que mataram 21 pessoas em Birmingham, os mais graves do IRA na história, seis irlandeses foram inocentados ao fim de uma longa batalha comandada por ela.

A última briga que comprou foi a resistência à guerra contra o terror deflagrada após o 11 de Setembro. Segundo a advogada, com as ações no Afeganistão e no Iraque e as prisões por tempo indefinido de suspeitos na Grã-Bretanha e na base de Guantánamo, o governo passou a usar o terrorismo ''como desculpa'' para cometer arbitrariedades.