Título: Europa e Ásia enfrentam epidemia
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, Saúde & Ciência, p. A12
Europa Oriental e a Ásia enfrentam uma epidemia emergente de Aids. O aumento de casos da doença nessas regiões se deve ao alto consumo de drogas injetáveis associado ao compartilhamento de seringas. O alerta é do professor de Epidemiologia e Saúde Internacional na Bloomberg School of Public Health da Universidade John Hopkins, em Baltimore (EUA), Cristopher Byrer.
Nessas regiões, o avanço da doença está ligado ao tráfico e ao uso em larga escala de heroína e do ópio. A epidemia de HIV é mais recente do que a enfrentada por EUA e Brasil (que data das décadas de 70 e 80), observa ao JB o cientista, um dos participantes da 3ª Conferência da Sociedade Internacional da Aids. O evento, no Riocentro, Barra da Tijuca, é o maior sobre o assunto feito no Brasil. Nele, 5 mil especialistas discutirão soluções de saúde pública, desenvolvimento de vacinas e avanços na terapia anti-retroviral.
A rota do HIV, que segue a trilha da droga, sai do Afeganistão, percorre a Ásia Central e a Rússia e vai até a Europa Oriental. Como a maioria dos usuários de drogas são homens jovens e sexualmente ativos, acabam sendo poderosos vetores. Segundo Byrer, na Ásia Central, onde a epidemia tem dois anos, o número de infectados já é alto: quase 100 mil, sendo 80% usuários de drogas injetáveis. A situação se agrava porque em países como o Irã, 95% dos consumidores de heroína e ópio não usam seringas descartáveis. Na Rússia e na Ucrânia o problema é mais antigo, dos anos 90. Lá a taxa é mais alta, com 1,4 milhão de infectados. Desse total, 75% consomem drogas injetáveis. O Sudeste Asiático, com 7,1 milhões, é a segunda região mais afetada, depois da África.
- Há políticas de saúde pública nessas regiões, mas não são suficientes - comenta Byrer. - A solução seria um programa de redução de danos, substituindo a heroína por metadona (opiáceo sintético que reproduz os efeitos da droga), e distribuindo seringas descartáveis. Sabemos que essa medidas funcionam, mas precisam ser implementadas.
Além da questão da prevenção, os cientistas enfrentam dificuldades para desenvolver medicamentos e vacinas eficazes devido ao alto poder de mutação do HIV. A pesquisadora Francine McCutchan, da mesma universidade de Byrer, chama a tenção para a importância de se estudar os vírus recombinantes - que surgem da união de cepas.
- Portadores destes tipos de vírus são mais eficientes na transmissão porque trazem maior carga viral - explica a especialista.
McCutchan observou, em quatro grupos no Leste da África, a proliferação de vírus recombinantes. A infecção repetida por HIV provoca o aumento da diversidade genética.
-- É possível relacionar a ocorrência da infecção dupla à expansão da epidemia. Os recombinantes dificultam a pesquisa de vacinas, podendo inibir respostas no tratamento - diz.