Título: Brasileiros apostam no pior
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, Economia & Negócios, p. A17

São os investidores brasileiros os mais pessimistas em relação aos efeitos da crise política no mercado nacional. Analisando-se os movimentos do mercado futuro, percebe-se que a saída de investimentos é uma aposta mais forte entre os nacionais do que os estrangeiros.

No levantamento mais recente da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), de 21 de julho, os investidores domésticos detinham 57% das vendas do índice Ibovespa no mercado futuro. Os estrangeiros detinham apenas 22% das posições vendidas. Quando um investidor assume a posição vendida, acredita que o indicador, que reflete a variação dos 55 papéis mais negociados na Bolsa de Valores de São Paulo, vá cair.

- O governo não conseguiu conter a crise, e isso tem se tornado um problema maior a cada dia aos olhos dos investidores - diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe no Brasil do banco francês BNP Paribas. - E entendo que a correção (dos preços dos ativos ) ainda não acabou.

Mas os estrangeiros parecem começar a perceber os efeitos da crise política. Ontem, a Bovespa caiu 3,39%, devido sobretudo ao movimento de venda de investidores externos. O volume diário alcançou R$ 1,8 bilhão, o mais forte em um dia no mês.

- O sinal ficou vermelho para os estrangeiros. Eles vão ficar mais atentos ao mercado brasileiro a partir de agora - avalia Marco Melo, chefe da área de research da Ágora Sênior. - Se a crise política perdurar, isso pode levar à ingovernabilidade. Com isso, eles podem reduzir sua exposição no Brasil. Assim, estamos de olho nos movimentos imediatos na taxa de câmbio e apostamos na volta do risco Brasil ao patamar dos 450 pontos.

O dólar sofreu ontem a maior alta em quase 14 meses, 2,66%, e fechou a R$ 2,462. Já o risco Brasil chegou ao fim do dia a 421 pontos, alta de 1,20%. O Global 40, título da dívida brasileira mais negociado no exterior, caiu 1,50%.