Título: Presidente do PT quer abrir contas
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 26/07/2005, Brasília, p. D3

O presidente do PT-DF, Wilmar Lacerda, protocolou ontem à tarde no Banco Central um pedido para abertura de suas movimentações financeiras desde 26 de novembro de 2001, data em que assumiu a direção petista. Com a quebra dos sigilos bancário e fiscal, Wilmar pretende provar que não tem relação com o mensalão, apesar de aparecer na lista de pessoas que sacaram dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador dos pagamentos supostamente feitos pelo governo a parlamentares da base aliada. Em setembro de 2003, Wilmar foi à agência do Banco Rural no Brasília Shopping e sacou R$ 50 mil, segundo ele, para quitar parte das dívidas regionais do partido. A reunião da Executiva Regional que aconteceria ontem foi cancelada por Wilmar. Segundo ele, ''não há fato novo'' que justificasse o novo encontro. Na quinta-feira última, a executiva se reuniu e criou uma Comissão de Averiguação para investigar os repasses institucionais ou não feitos ao PT-DF para pagamentos de dívidas.

A comissão - composta por Eurípedes Camargo, José Beni e Antônio Carlos de Andrade, o Toninho - fará hoje a primeira reunião para definir os rumos dos trabalhos. Wilmar garante que ele não realizou outros saques nas contas de Marcos Valério. Ele conta ainda que a direção nacional repassou recursos indiretamente em outras ocasiões, como na gravação de programas partidários em 2003, quando o pagamento foi feito diretamente à agência publicitária responsável. Wilmar garante que as contabilidades estão registradas na tesouraria do partido, e serão esclarecidas com o relatório da comissão.

- Eu disse o que sei. Não fiz nada de errado, e a Executiva tem conhecimento de tudo - defende-se o presidente.

Uma das grandes críticas das correntes de esquerda do PT referem-se à permanência de Wilmar e de seu vice, Raimundo Júnior, candidato a presidente no Processo de Eleições Diretas (PED), nos cargos. Júnior retirou R$ 100 mil da conta do publicitário mineiro, segundo ele, pedido do ex-tesoureiro nacional Delúbio Soares, a quem o dinheiro teria sido entregue. Wilmar considera-se inocente e culpa Delúbio pela situação. Por isso, não vê razões para deixar o cargo. O ex-tesoureiro, no entanto, negou em seu depoimento à CPI dos Correios que teria autorizado os dois petistas do DF a fazer saques na conta de Marcos Valério.

- Isso é estratégia da defesa deles - disse Wilmar.

Mesmo mantendo-se na vice-presidência, a candidatura de Júnior à presidência do PT representando o Campo Majoritário será discutida por integrantes da Articulação, maior corrente do partido, em um encontro marcado para amanhã. Os petistas avaliarão a viabilidade de manter o nome de Júnior na corrida pela direção da legenda.