Título: Petistas creditam crise à limitação do debate interno
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, País, p. A2
O PT sempre passou para a sociedade a imagem de um partido que discute suas teses internas de maneira transparente e democrática. Nas últimas semanas, com o escândalo do caixa 2 nas campanhas políticas e as suspeitas cada vez mais fortes de que o partido pagou um mensalão, alguns parlamentares petistas - incluindo os integrantes da CPI dos Correios - desfilaram indignação, alegando desconhecer o esquema operado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares e pelo ex-secretário-geral, Silvio Pereira. O PT mudou?
- Mudou. Nos últimos anos, o grau de socialização das informações dentro da legenda foi se reduzindo, até chegar a praticamente zero - admitiu o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).
Petistas de diversas tendências apontam que essa centralização teve início a partir da segunda metade da década de 90, coincidindo com a chegada do deputado José Dirceu ao comando da legenda. Delúbio e Silvinho são ligados a Dirceu, embora o ex-chefe da Casa Civil negue essa relação de proximidade. Esse grupo integra o campo majoritário, que detém 52% dos votos internos.
- Eles têm 100% dos cargos de comando. Passam por cima dos outros 48% da legenda - protesta Valter Pomar, terceiro vice-presidente do PT.
Dentro do campo majoritário, existe um grupo predominantemente paulista. José Dirceu, João Paulo Cunha, José Mentor fariam parte deste comando, que definia os rumos da legenda sem consultar os demais filiados. Esse grupo teria o controle dos rumos políticos e das finanças do PT.
A primeira grande ruptura se deu em 1998 com a saída da Convergência Socialista, que acabou dando origem ao PSTU. Em 2003, parlamentares, como a senadora Heloísa Helena (AL), levaram os expulsos a fundar o PSOL.
- O PT que eu fundei morreu - desabafou Heloísa.
Valter Pomar lembra que a partir de 1995 o partido começou a se tornar mais ''flexível'' com os financiamentos de campanha, abrindo o leque de parceiros da iniciativa privada. O aumento do fluxo de recursos internos fez com que a legenda começasse a mudar de estilo.
- Nós assumimos um espírito de ''novos ricos'' - reclamou o terceiro vice.
Procurado pelo Jornal do Brasil, o deputado José Dirceu (PT-SP) discordou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que o PT tenha sofrido um processo de retração nas discussões internas desde que o campo majoritário, grupo do qual ele faz parte, chegou ao comando partidário. Segundo Dirceu, a maioria dos partidos recorre, normalmente, a debates nas executivas nacionais. Encontros de diretórios estaduais são raros. No caso do PT, mesmo em momentos em que não há crise, as reuniões do Diretório Nacional acontecem com freqüência, para dar mais transparência.