Título: PT negocia cassações
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, País, p. A2

Uma lista com o nome de cinco deputados petistas começa a circular pelos corredores do Congresso. Impulsionada pela oposição, a relação traz o nome dos parlamentares candidatos à cassação de mandatos por envolvimento no esquema de financiamento ilegal montado por Marcos Valério Fernandes de Souza, o chamado mensalão, para pagar deputados da bancada governista. Em troca, os aliados votariam projetos favoráveis ao governo. Encabeçando a lista, o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP). Em seguida, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Josias Gomes da Silva (PT-BA) e Paulo Rocha (PT-PA), o líder licenciado. Petistas de todas as tendências reconhecem que as acusações de corrupção contra o partido são mais nocivas do que a simples exposição dos nomes. Mas ter José Dirceu abrindo o grupo de degoláveis é algo que causa estranheza até de quem um dia foi petista e teve que escolher outros rumos políticos por conta de divergências internas.

- Lula é a maior liderança do PT. Mas Dirceu é o maior e melhor quadro da esquerda brasileira. Ele pode ser autêntico, olhar no seu olho e dizer que vai te aniquilar. Mas tem preparo político e partidário - reconhece a senadora Heloísa Helena (PT-AL), que foi expulsa do partido por sua rebeldia.

Dirceu sabe que está com a cabeça a prêmio. Paradoxalmente, até o momento, seu envolvimento direto nos escândalos descobertos ainda não foi confirmado, diferentemente de seus companheiros de pesadelo. João Paulo Cunha, Paulo Rocha, Josias Gomes da Silva e José Mentor estão até o pescoço afundados no caso. Todos eles já tiveram saques comprovados - ou pessoalmente, ou por intermédio de parentes e assessores - na agência do Banco Rural do Brasília Shopping, em Brasília.

O caso de Dirceu é diferente. Perspassa pelo Congresso a sensação de que ele é o responsável pelo esquema de corrupção que começa a vir à tona. O próprio deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) reiterou isso em todas as suas intervenções - incluindo Conselho de Ética, CPI dos Correios e as sucessivas entrevistas que concedeu desde que denunciou o caso. Dirceu atribui o fato ao seu estilo próprio, de partir para a briga, para o confronto, de se expor nos embates com a oposição.

O prejuízo também pode ser expresso em números. Na eleição de 2002, Dirceu encabeçou a chapa de deputados federais e obteve 500 mil votos. Mas petistas reconhecem que a força de Dirceu não está nas urnas, e sim, na articulação interna.

- Se formos ver, só o Zé apareceu no horário eleitoral gratuito pedindo votos. E teve apenas 500 mil. A força dele advém da máquina partidária, não de seu carisma junto ao eleitorado - reforçou um petista.

Para a deputada Maninha (PT-DF), só a simples vinculação da legenda com escândalos de corrupção já traz um prejuízo imenso para o partido. Mas Dirceu representa um símbolo, uma imagem partidária muito forte perante a sociedade.

- A imagem pública dele, cultivada neste tempo todo, é de herói, de resistência à ditadura. Estamos perdendo esta referência - reconheceu Maninha.

Outro integrante da esquerda partidária, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA) não vê o momento com o sentimento de vingança que poderia advir da perseguição sofrida por seu grupo nos tempos em que a reforma da Previdência tramitava no Congresso, em 2003. Ao contrário, ele que já votou contra o governo Lula e desrespeitou orientações do partido, diz hoje estar com a sensação de vazio.

- Às vezes me pego pensando e acho que estamos vivendo um pesadelo - definiu Pinheiro.

Mesmo assim, ele procura não analisar a crise sob o ponto de vista de nomes apenas, mas de imagem do PT. Acredita que a primeira análise seria simplista demais. E avalia que o PT está acima de tudo isso.

- Seja quem for, A, B ou C, as pessoas passam. O que fica é o partido, a legenda, a estrela - acrescenta.

Um dos pré-candidatos às eleições diretas para a presidência do PT, marcadas para setembro, Valter Pomar também é cauteloso sobre a dar nomes de suspeitos. Teme incorrer em injustiças. Mas afirma que o momento não é de buscar poupar ninguém.

- Se queremos passar uma imagem séria, construtiva, deste momento, temos que investigar até o fim e expulsar quem tiver de ser expulso. Não podemos pensar o contexto a curto prazo, de maneira imediata - defendeu Pomar.

Um parlamentar do PT paulista concorda com Pomar. Reconhece que não há condições, neste momento, de se defender ninguém. Até porque as coisas acontecem em uma velocidade vertiginosa, segundo avaliou.

- Tirando a descoberta dos saques no Banco Rural, todas as outras denúncias surgiram pela imprensa. Estamos totalmente a reboque dos acontecimentos - concorda um integrante da CPI dos Correios.